Debates
A semente da educação qualificada que garante a colheita de um futuro promissor
Da Redação | 05 de janeiro de 2022 - 00:46
Por Domingos Murta
A economia do Brasil vive um paradoxo. De um lado, milhares
de vagas de empregos disponíveis no mercado, de outro a falta de qualificação
adequada para que os jovens as ocupem.
Embora estejamos vivendo com menos restrições que no início
da pandemia, principalmente nas atividades econômicas, ainda temos cerca de
13,5 milhões de desempregados, sendo que, segundo pesquisa da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), a falta de qualificação impede que boa parte
destes brasileiros ingresse no mundo do trabalho. Esse paradoxo se acentua em
um dos setores que mais emprega no Brasil, o industrial. Cinco em cada dez
indústrias enfrentam dificuldades para encontrar profissionais qualificados,
interferindo diretamente em nossa tão sonhada recuperação econômica e social.
Esse cenário também é desanimador em setores que,
tradicionalmente, requisitam grande quantidade de mão de obra, como os de
móveis, vestuário, têxtil e, ainda, o de máquinas e equipamentos. Em algumas
profissões, como de operador, por exemplo, a carência de qualificação supera a
casa dos 96%.
Motivos elementares, como a dificuldade de expressão,
problemas com cálculos matemáticos, ausência de noções básicas em informática,
falta de domínio de outras línguas, principalmente o inglês, e poucos anos de
estudo curricular, fazem parte de uma pesquisa da União Geral dos Trabalhadores
(UGT) que explica essa contradição de muitas vagas e um grande número de
pessoas buscando um trabalho, ao mesmo tempo.
Sugestões já foram dadas por setores da sociedade, sem
contar as várias propostas engavetadas no parlamento brasileiro para solucionar
esse problema, entretanto, elas se perdem por serem muito "pontuais".
A maioria delas deixa de lado a discussão da “causa”, atendo-se apenas aos “efeitos”.
Enquanto o foco for apenas em programas assistenciais, a
exemplo do Bolsa Família e o recém-criado Auxílio Brasil, sem desmerecê-los
pelas suas importâncias, principalmente em momentos como de agora, vamos
continuar consumindo montanhas de recursos públicos e pulando de crise em crise,
sem focar no cerne do problema!
O Brasil precisa de medidas estruturantes, que priorizem a
EDUCAÇÃO das camadas mais pobres da população. A meu ver, esse é o único
caminho para acabarmos com a desigualdade social e econômica da nossa nação.
Existem exemplos que comprovam essa tese. Um deles é o da
Coréia do Sul, que experimentou um crescimento econômico vertiginoso nas
últimas quatro décadas, tendo como uma das principais razões de tal
transformação o desenvolvimento educacional, conquistado a partir de uma
verdadeira revolução no ensino básico do país.
De forma complementar, foram implementados programas de
qualificação, como o de aprendizagem, que já revelaram sua eficácia, pois as
novas gerações continuam impulsionando o desenvolvimento do país asiático.
Podem ter certeza que aqui no Brasil não seria diferente. Quanto mais
iniciativas voltadas à educação e formação de nossos jovens forem criadas, mais
oportunidades reais estaremos criando.
A experiência do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola)
atesta que o Programa de Aprendizagem, aplicado de acordo com a Lei n.º
10.097/2000, é um treinamento extremamente eficaz para o futuro profissional. A
qualificação teórica, ajustada à prática do trabalho na empresa onde os jovens
atuam, aprimora a capacidade e corrige deficiências técnicas e comportamentais,
preenchendo a lacuna deixada pelas falhas (ou os chamados gaps) que ainda
temos no ensino escolar brasileiro.
A recém-instalada Comissão Especial do Estatuto do Aprendiz
(PL 6461/2019), composta por deputados de diferentes partidos e de vários
estados da Federação, tem como grande missão produzir uma legislação moderna
para o novo Marco Regulatório da Aprendizagem do Brasil.
Além de melhorar a qualidade do nosso sistema de ensino,
principalmente o público, precisamos semear agora o que queremos colher no
futuro. Por esse motivo, somente se plantarmos hoje a semente da educação conseguiremos
celebrar no futuro a "colheita" de uma safra de adultos aptos a
ocupar o seu lugar no mundo do trabalho. E o Brasil, então, poderá ocupar o
lugar que sempre mereceu.
Domingos Murta é presidente do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR), ex-presidente do Banco do Estado do Paraná (1996/1997), ex-diretor do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (1997/1999).