Debates
Desrespeito parlamentar, descaso midiático e silêncio de dirigentes marcam aprovação de lei contra Universidades paranaenses
Da Redação | 21 de dezembro de 2021 - 04:27
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A falta de informação e esclarecimento público sobre os
impactos que a lei das universidades, aprovada pelo governo ratinho (PSD)
com aval de 42 dos 55 deputados estaduais, e o silêncio da mídia paranaense
parecem estar em sintonia com o desrespeito de alguns parlamentares revelaram
com a história e a contribuição das Universidades Públicas. Quatro
aspectos precisam ser avaliados na recente aprovação da lei geral das universidades (LGU),
que ameaça o futuro das sete instituições de ensino superior do Paraná (UEL,
UEM, UEPG, Unioeste, Unicentro, UNEP e Unespar).
O primeiro aspecto (e, talvez, o mais preocupante) mostra a
agressividade e desrespeito com que alguns deputados se manifestaram contra
as Universidades Públicas do Paraná, pois se trata de algo
desproporcional e violento, até então não registrado com tamanha expressão
ofensiva. Quem acompanhou sabe do que se trata e, quem não viu, vale acessar
arquivos das falas, pois são mais que preocupantes. É de se perguntar, afinal,
de onde foi que tais ‘parlamentares’ saíram e quem os elegeu? A resposta,
igualmente preocupante, é a previsível: o Povo, sua excelência, por variadas
razões, que valem outros debates.
Será que os tais deputados não têm pessoas entre eleitores,
familiares ou grupos de apoio que passaram por uma das 7 Universidades,
estudaram sem pagar mensalidade, tiveram acesso aos serviços de permanência
acadêmica ou participaram de pesquisa e atividade extensionista com direito a
bolsa de apoio custeada por agência nacional (CNPq), estadual (Fundação
Araucária) ou da própria universidade? Nunca ouviu falar nada ‘disso daí’,
mesmo?
Os referidos deputados desconhecem a existência dos
hospitais universitários que atendem moradores de diversos munícipios nas regiões
de abrangência das estaduais em parceria com o SUS? Inaceitável atacar
profissionais e as instituições de ensino superior público, sem considerar a
inegável presença na vida de milhares de paranaenses. Qualquer debate político
precisa ter informação, análise cuidadosa e respeito à realidade do
investimento público. E, aí, a honestidade é sempre fundamental!
O segundo aspecto envolve a adesão midiática ao projeto do
governo rato (PSD e aliados): enfraquecer as universidades estaduais
do Paraná. Para não dizer que a mídia silenciou por completo, uma busca na web
revela que alguns veículos seguiram a tônica da mídia custeada pelo dinheiro do
contribuinte e se limitaram em reproduzir o discurso oficial da assessoria:
governo vai “padronizar as universidades estaduais na gestão de
pessoal, custeio e investimento nas instituições, a partir de critérios
públicos, transparentes e auditáveis”, dizia o lead oficial, que rolou estado
afora.
Uma segunda fonte para avaliar a informação ou algum
questionamento para apurar os motivos da grande maioria de Servidores/Docentes
posicionar-se contrários ao projeto de lei não interessa? Nada! E, pelo visto,
segue a lógica do ‘pagou, publicou’, que a velha propaganda oficial imprime na
mídia verde-amarela (a mesma que não sabe porque perde audiência, identidade e
respeito do tal mercado, que tanto defende).
Entre os poucos veículos que pautaram o tema, destaca-se
o Plural que, na terça-feira, 14/12, informou que a “maioria dos
reitores abre mão de debate”. Pela apuração do Plural, apenas dois
dirigentes (da UEL e da UEM) teriam pedido tempo para discutir o projeto. E é
exatamente este o terceiro aspecto, preocupante, que marcou a aprovação
atropelada e sem debate público da LGU. Se inúmeros estudos divulgados
confirmam que as Universidades devem perder cerca de 600 vagas de
professores efetivos, em poucos anos, como entender que boa parte dos (sete)
dirigentes das instituições seria favorável ao projeto governista?
Se está escrito, textualmente, que a expectativa é reduzir
investimento público nas universidades, o que leva tais reitores a
silenciar, colocando-se favoráveis ao desmonte em marcha? Talvez, a psicanálise
ou a velha política ajudem explicar, mas é no mínimo inaceitável, para não
dizer vergonhoso aos milhares de Professores, Servidores e Estudantes das IEES
do Paraná. Inclusive as redes sociais e mesmo os portais institucionais, na
maioria dos casos, sequer referenciou o ataque em andamento, que o governo
impôs às IEES. Não vale, é claro, postar nota, dois dias depois do qualquer
debate ‘enterrado’!
E, por fim, o quarto aspecto deixa à mostra a constatação de
que, mesmo contrários à proposta que ameaça clara e textualmente o futuro
das Universidades Estaduais do Paraná, como Professores e Servidores
não conseguiram reagir em tempo de segurar tamanho descaso e ataque às
instituições públicas? Não se trata de uma análise isolada e tampouco de
apontar os fatores externos e alheios à vontade (como a pandemia da Covid-19,
por exemplo), mas de reconhecer que este não foi o primeiro ataque ás Universidades,
nestes anos recentes.
Depois do ‘massacre do centro cívico’, de 29/04/2015, em que
o governo Beto Richa (PSDB) usou cerca de um R$ 1 milhão para custear a
violência policial contra servidores públicos na aprovação do saque ao fundo do
Paraná Previdência, veio a reforma que o mesmo governo rato (PSD) antecipou em
dezembro de 2019, retirando direitos de aposentadoria de milhares de
trabalhadores, que já haviam custeado o caixa público por contribuições
obrigatórias.
Neste ritmo, sem calcular os próximos ataques diante da
ausência de resistências coletivas, em breve outras ações podem atropelar ainda
mais a destruição das Universidades. É tarefa das entidades sindicais e
movimentos estudantis buscar formas de ação, resistência, saindo do previsível
silêncio hoje revelado por reitores, que em dezembro de 2021 não cumpriram com
a tarefa de defender as instituições que deveriam representar.
Silenciar não é possível, mas é preciso fazer algo concreto para mudar os rumos desenhados pelos governos às Universidades Públicas no Paraná e também no Brasil. Mãos à obra, Irmãos, Irmãs e Colegas! Esta é uma crítica, jamais individualizada, que busca desafiar a construção de ações coletivas em sintonia com as urgências de uma resistência necessária.
Sérgio Luiz Gadini, jornalista, dr em Comunicação, professor
da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail: [email protected]