Debates
Câncer de pele também atinge crianças
Da Redação | 15 de dezembro de 2021 - 01:14
Por Cláudia Lopes
Com a chegada no verão, os cuidados com bebês e
crianças em relação à exposição solar precisam ser ampliados na mesma
proporção do aumento do calor e dos dias ensolarados. Esta é uma pauta de
discussão anual e nunca deve ser deixada de lado. Embora pouco debatida, a
incidência do câncer de pele em crianças é maior do que
se imagina, daí a importância de falarmos de medidas preventivas a
queimaduras, brotoejas, infecções de pele e dermatoses.
Na adolescência, a doença tem uma incidência anual de 18 casos
por um milhão de indivíduos com idades entre 15 e 18 anos. Em crianças menores
de dez anos é mais difícil de ser encontrada, com uma taxa de incidência
de aproximadamente um caso para cada um milhão de crianças com idade inferior a
10 anos.
O câncer de pele resulta dos efeitos da exposição
solar em médio e longo prazo e pode aparecer a partir do
surgimento de lesões pigmentadas – conhecidas como pintas ou
nervos melanocíticos, que podem evoluir para um quadro maligno ou não
ao longo da vida. Ele aparece em adultos, crianças e adolescentes, já que
a nossa derme “tem memória” e acumula os danos solares ao
longo da vida. Segundo dados do GRAAC, o câncer de pele em
crianças representa de 1% a 3% de todos os casos de câncer
infantil.
Em média, as crianças se expõem ao sol 3x mais que os
adultos, e grande parte – cerca de 80% –
da radiação UV (ultravioleta) é acumulada na pele durante a infância e
adolescência. A maior preocupação é o dano solar crônico, causado progressivamente
como resultado da exposição solar diária sem proteção em qualquer atividade ao
ar livre, como na escola e no carro, sem a devida
prevenção. Além disso, há o fator hereditário, ou
seja, quando há histórico de melanoma na família, é essencial tomar todos
os cuidados preventivos possíveis. Outro ponto a destacar é que
as crianças de pele e olhos claros, ruivas, com sardas ou albinas
têm maior predisposição à doença.
Em todos os casos, a prevenção é a mesma:
evitar exposição à luz solar sem proteção adequada e oferecer muito líquido,
para garantir a hidratação.
No caso de melanomas, diferentemente do que ocorre com
adultos, em
crianças normalmente eles estão relacionados a
síndromes hereditárias e a lesões de pele que podem sofrer
alterações. Também diferentemente da forma como se apresenta em
adultos, que normalmente têm lesões de coloração escura, em crianças
o melanoma surge a partir de lesões amareladas, esbranquiçadas ou
rosadas.
De qualquer maneira, continua extremamente importante
iniciar as medidas de proteção bem cedo, considerando que os danos
solares são cumulativos e a incidência de queimaduras solares na infância
aumenta o risco de melanoma na idade adulta.
É importante ressaltar que é normal as crianças terem pintas e nevos, que são pequenas manchas marrons ou saliências que vão surgindo progressivamente e são comuns na região do tronco. Quanto maior a exposição ao sol, mais nevos surgem. Porém, embora eles não sejam motivo de preocupação a menos que modifiquem suas cores e formas, é necessário que os pais ou responsáveis fiquem atentos, pois a quantidade excessiva de nevos constitui fator de risco para o melanoma.
Assim, os pais devem ficar atentos a pele das
crianças, observar lesões pelo corpo inteiro, e não somente nas
partes mais expostas aos raios solares. É importante verificar mãos, unhas, pés
e o couro cabeludo e observar se, de tempos em tempos, esses sinais não se
modificam.
Os sintomas de melanoma infantil mais comuns são:
Saliências na pele que coçam ou sangram.
Sinais de aparência estranha e tamanho grande, diferentes de
outras pintas existentes no corpo da criança.
Uma lesão similar a uma verruga, de cor amarelada,
esbranquiçada ou rosada.
Por fim, no verão é essencial que os cuidados relacionados
à alimentação, hidratação, vestuário e exposição
solar sejam redobrados, e não somente com as crianças. Para
todos, a regra é a mesma: se for para se expor ao sol, lembre-se de
respeitar os horários adequados, evitando os picos de emissão de radiação
ultravioleta, que ocorrem das 10h às 16h, e nunca deixe de
aplicar protetor solar adequado à pele e à faixa etária das crianças. O
uso de vestimentas apropriadas, chapéus e óculos de sol aumentam a proteção, e
o filtro solar deve ser com FPS acima de 30. Bebês menores de seis
meses não devem usar protetor solar e nem serem expostos ao sol após as
10h da manhã.
Se restarem dúvidas, vale consultar um pediatra ou dermatologista.
* Cláudia Lopes é pediatra e professora do curso de Medicina da Universidade
Santo Amaro – Unisa.