Debates
Ninguém tem o poder de usurpar a nossa paz a não ser nós mesmos
Da Redação | 29 de outubro de 2021 - 01:52
Por Soraya Rodrigues de Aragão
Vez ou outra ouvimos dizer que alguma circunstância roubou a
paz de alguém. Mas será possível que de fato algo ou alguém tem mesmo este
poder? A paz é uma dádiva divina que precisa ser cultivada diariamente, não
podendo ser somente uma mera opção de estilo de vida, mas uma prioridade de
existência a ser fertilizada dia após dia. Isto porque paz não é mercadoria que
se compra, não é algo que se rouba, não é favor que se troca, tampouco que se
encontra, se ganha ou se perde, mas uma decisão de cultivo permanente, uma
postura e uma filosofia diante da vida. É um compromisso, um contrato de
responsabilidade que temos para conosco. A vida diária é repleta de
turbulências e desafios que existem para mim, para você e para o mundo inteiro,
mas quando temos um compromisso inadiável em não somente oferecer morada à paz
dentro de nós, mas sobretudo agregá-la como parte nossa, poderemos desnudar o
nevoeiro que nos impede de vislumbrar as coisas com mais clareza, maturidade e
discernimento para seguirmos mais conscientes e leves diante das tormentas da
vida. Por outras palavras, a mensagem que quero passar nesta reflexão são para
pessoas e situações hodiernas em que precisamos nos posicionar, “tirar a
munição “de quem porventura queira nos prejudicar, para desenvolvermos estratégias
psicossociais de empoderamento. Em nenhum momento a proposta do texto é
alienada nem romantizada acerca das dificuldades da vida. Estas existem sim,
mas em muitas situações poderemos sim nos posicionar, estabelecer limites. A
questão principal que o texto trata é o desenvolvimento da fortaleza interior,
da resiliência.
É necessário ampliarmos a nossa consciência, contemplando o
infinito do firmamento para então compreendermos que nenhuma preocupação nem
ninguém deveriam nos subtrair a paz, pois reitero que esta nunca poderá ser
roubada. Há coisas em que uma postura proativa e assertiva pode promover
resoluções e mudanças para problemas que vez ou outra se anunciam em nossas
vidas como meio de autodesenvolvimento. No entanto, infelizmente, outras não
estarão em nosso poder controlá-las, sequer solucioná-las naquele tempo em que
desejamos. Esta não é uma postura de resignação, falta de coragem ou
estagnação, mas sabedoria mesmo, pois há coisas que por mais que tentemos
resolver, somente causará mais desgaste, “entornando cada vez mais o caldo” e
conseqüentemente nos afastando da solução que tanto ansiamos. Há coisas que
somente o tempo será capaz de explicar e de nos fazer compreender posturas e
motivações e sendo assim, quando através de um apurado discernimento decidirmos
que não há nada a ser feito e que de tudo já se foi tentado, o melhor é
aquietarmos o coração, nos lembrando que nenhuma preocupação deveria nos tirar
a paz de espirito, a alegria de viver, o seguir da vida com tranqüilidade.
Sempre pensamos que existe legitimidade nas preocupações e
nas lamentações, como se a nossa postura desesperada fosse fonte da solução que
procuramos para nos levantarmos dos tropeços da vida. Contudo, quando a
situação é “solucionada” de alguma forma- pois na roda da vida tudo é
impermanente- poderemos então entender que aquilo que nos pressionava ou
preocupava nunca foi resolvido em uma situação de turbulência emocional, pois
os melhores “insights” para sairmos de situações desagradáveis vieram
exatamente nos momentos de serenidade, de conexão conosco, de
autorresponsabilidade.
Soraya Rodrigues de Aragão é psicóloga,
psicotraumatologista, escritora e palestrante. Realizou seus estudos acadêmicos
na Unifor e Università di Roma. Equivalência do curso de Psicologia na Itália
resultando em Mestrado. Especializou-se em Psicotraumatologia pela A.R.P. de
Milão.