Debates
Correções no 'antigo' Ensino Médio proporcionam um novo futuro na aprendizagem
Da Redação | 21 de outubro de 2021 - 01:14
Por Yan Navarro
Nos últimos meses, um assunto tem aparecido com bastante
frequência para as famílias com filhos em idade escolar, sobretudo aqueles que
estão finalizando o ciclo de ensino no Fundamental: o Novo Ensino Médio,
consequência da reforma na Educação Básica expressa na Lei 13.415 de 2017, que
promoveu alterações na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a fim de flexibilizar o
currículo e tornar, aos olhos da corrente que defende as alterações, a escola
mais atrativa. O Governo Federal tem divulgado na imprensa esse tema como uma
benéfica inovação que trará maior autonomia para o estudante na escolha de seu
percurso nesta etapa, prometendo também um salto na qualidade da educação.
Cabe, portanto, analisarmos os problemas do “antigo” Ensino
Médio que motivaram o desenvolvimento desse novo modelo. O debate partiu do
princípio de que o atual formato apresentava baixa qualidade e altos índices de
evasão escolar e reprovação, o que demonstrava a necessidade de torná-lo mais
atrativo para os estudantes. Infraestrutura inadequada das escolas, necessidade
dos jovens entrarem prematuramente no mercado de trabalho para auxiliar a renda
familiar, violência doméstica, gravidez na adolescência, bullying e questões
relacionadas ao currículo escolar são algumas das adversidades enfrentadas
pelos jovens hoje e que podem perdurar mesmo com a reforma proposta caso ela
não seja implementada adequadamente.
Dessa forma, fica-nos o questionamento se apenas as mudanças
curriculares poderão tornar o colégio de fato mais atrativo aos alunos. Da
maneira como está sendo estruturado esse novo modelo, creio que sim. O aumento
da carga horária de 2400 horas para 3000 horas já mostra a intenção de aumentar
a convivência dos estudantes com a comunidade escolar, o que também gera uma
responsabilidade extra da escola, que deve ter um olhar maior de acolhimento
para dar-lhes apoio e orientações. Cria-se, nessa situação, a necessidade de
desenvolver projetos que avaliam toda a trajetória do estudante ao longo da
vida escolar, a fim de auxiliá-los e ampará-los nesta que é uma das primeiras
decisões que precisa tomar.
O desenvolvimento dos projetos de vida parece-nos
fundamental, pois será o momento de convidá-los à reflexão sobre o que se
deseja e espera para o futuro. Para tanto, a instituição deverá criar espaços e
tempos de diálogo com os estudantes, tornando-os protagonistas de suas
escolhas, mostrando as possibilidades que podem se abrir, avaliando seus
interesses e orientando-os. O desenvolvimento do projeto de vida dos alunos
permitirá que eles sejam capazes de fazer escolhas responsáveis e conscientes,
em diálogo com seus anseios e aptidões, mas, para isso, a escola deve também
estar aberta a recebê-los, ouvi-los e guiá-los na escolha dos itinerários
formativos.
De acordo com a Lei que cria o Novo Ensino Médio, os
itinerários formativos são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas,
núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes poderão
escolher no ensino médio. Os itinerários formativos podem se aprofundar nos
conhecimentos de uma área do conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias,
Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da educação técnica e profissional
(ETP) ou mesmo nos conhecimentos de duas ou mais áreas e da ETP. As escolhas
dos itinerários serão realizadas pelas redes de ensino considerando um processo
que envolva a participação de toda a comunidade escolar, o que mostra a
disposição de se ouvir e entender os mais envolvidos no processo.
Dessa forma, a escolha da escola deve estar vinculada ao que
o aluno anseia para seu futuro. Avalie os itinerários oferecidos e qual o real
valor que a escola dará ao desenvolvimento dos projetos de vida. As famílias
devem conversar com os gestores para entender os processos desse novo modelo
que foi formatado para abrir o diálogo com a comunidade escolar e mantê-lo
assim ao longo de toda a trajetória do estudante. A reforma do Ensino Médio é
uma oportunidade de melhorar essa etapa da educação básica que não pode ser
desperdiçada, pois já passou da hora de oferecer oportunidades que podem de
fato levar a transformações na vida profissional dos nossos jovens e impactar
positivamente a sociedade de uma forma geral.
* Diretor da rede de Escolas Luminova, Yan Navarro é doutor
em Didáticas específicas pela Universidade de Valência, na Espanha, e doutor em
Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.