Debates
Elizabeth decola para Dubai: tempestade em copo d'água ou crise anunciada?
Da Redação | 02 de outubro de 2021 - 01:27
Por Afonso Ferreira Verner
Na última segunda-feira (27) a Câmara Municipal de Ponta
Grossa (CMPG) deu o aval para a viagem da prefeita da cidade, Professora
Elizabeth Schmidt (PSD), à cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A
aprovação foi tranquila em termos de votos, mas tem causado questionamentos nas
redes sociais. Diante disso, esse artigo se propõe a refletir sobre a questão:
é para tudo isso mesmo ou isso é tempestade em copo d'água?
Para respondermos essa questão é preciso primeiro refletir
sobre o vetor da polêmica. O foco do debate em torno da viagem não é a ida em
si, mas o pagamento de diárias. Elizabeth, um secretário e um assessor que
compõem a comitiva pediram o pagamento de R$ 38 mil em diárias - o trio
participará da Expo Dubai. Esse custo é apenas para os "gastos rotineiros
da viagem", sem levar em conta as passagens aéreas que devem custar mais
de R$ 3,5 mil mil para cada um deles apenas na ida, sem contar a volta.
Com isso, cabe lembrar que o pagamento de diárias é um
expediente polêmico, mas não raro. O próprio Legislativo, o órgão que autoriza
a viagem da prefeita, paga diárias para os vereadores em viagens dentro do
Paraná (neste caso o valor da diária é de R$ 250) e R$ 350 para viagens fora do
Estado. Há no Legislativo um movimento que pede mais transparência e o fim das
diárias, mas esse é assunto para outro artigo.
Desta forma, esclarecemos o primeiro ponto: a polêmica não
reside apenas no pagamento das diárias, já que essa é uma prática mais ou menos
comum na política local, porém talvez resida no valor das diárias, bem acima do
costumeiro. Mas e se observarmos a viagem em si: ela é novidade? A resposta é
não. Em 2018, o antecessor de Elizabeth, Marcelo Rangel (hoje no PSDB), já
viajou à China também em uma missão oficial.
Com isso, não é inédito que um prefeito vá ao Exterior e não
é raro o pagamento de diárias. O que mudou? A resposta é simples: mudou o
contexto. O mundo enfrenta uma pandemia em que o Brasil é um dos países com
pior índice de combate ao coronavírus e os estados e municípios penam para
arcar com suas obrigações básicas. Em um contexto em que falta o básico para
parte da população, o custo de uma viagem internacional salta aos olhos.
Há ainda outro fator importante na receita: Elizabeth
enfrenta internamente uma série de pequenas crises ou de assuntos ainda não
resolvidos. Basta apenas lembrar que a prefeita teve que voltar atrás no corte
do adicional de 40% no salário base dos servidores da saúde, além de ainda
enfrentar um iminente aumento no valor do transporte coletivo da cidade que
ameaça os R$ 8.
Desta forma, me parece claro que não é uma viagem qualquer
em um contexto qualquer, há peculiaridades. Mas é preciso observar também ao
redor: na vizinha Carambeí a também prefeita novata, Elisangela Pedroso (PSB)
também é alvo de uma série de críticas pelo mesmo motivo: a viagem à cidade de
Dubai. Isso também mostra um padrão pouco notado na rotina política.
Ao ser obrigado(a) a pedir autorização ao Poder Legislativo para viajar e deixar o município, um(a) prefeito(a) também se expõe às críticas da oposição, isso é normal, faz parte do jogo democrático. Cabe agora ao cidadão avaliar se a viagem se faz necessária, se o gasto se justifica ou não. Em última instância, cada um vai determinar se o caso se trata de uma polêmica ou de uma tempestade em copo d`água.
Afonso Ferreira Verner - Jornalista, professor universitário
e doutorando em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).