Debates
Aprendizagem para fortalecer a economia
Da Redação | 19 de agosto de 2021 - 02:00
Por José Lucio Glomb
Para trabalhos especializados, trabalhadores especializados.
Por mais lógico que pareça o raciocínio, ainda há um longo caminho a ser
percorrido para que as empresas brasileiras consigam levá-lo ao pé da letra. No
Brasil, a falta de adequação comportamental e de qualificação profissional são
citadas como as principais dificuldades encontradas por 48% dos recrutadores na
hora de contratar jovens talentos. O dado é de uma pesquisa realizada pela
Catho.
Preparar os jovens para o mercado de trabalho é um desafio
em um país que ainda luta para melhorar até mesmo a educação básica. Mas é um
dos caminhos mais promissores para construir uma economia fortalecida, de
acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Capacitar quem ainda não começou sua vida profissional é uma forma eficaz de
garantir mão de obra com as características necessárias para os diversos
setores produtivos.
Para acelerar esse processo e assegurar um crescimento
monitorado dos jovens foi criada, em 2000, a Lei de Aprendizagem. Ela determina
que toda empresa de médio e grande portes deve contratar aprendizes na faixa
etária dos 14 aos 24 anos. O foco do programa está no acompanhamento dessa
primeira experiência profissional com uma equipe multidisciplinar, além de oferecer
aos jovens um vínculo de trabalho formal, com carteira assinada, uma renda fixa
e todas as garantias trabalhistas. Assim, se, por um lado, o Programa de
Aprendizagem dá às empresas a oportunidade de qualificar seus colaboradores
desde o primeiro momento, por outro ele protege os direitos de quem participa
dele.
Nessa outra ponta da relação, aliás, os ganhos são ainda
mais significativos. O Programa de Aprendizagem tem um forte papel social de
inclusão. O aumento do desemprego no país é uma triste realidade e atinge
especialmente a população mais nova, mais pobre e com menor grau de
escolaridade. Os avanços da aprendizagem nesse sentido são imensos. É por meio
dela que um grande contingente de jovens consegue romper o ciclo de pobreza em
que nasceu.
Não se trata de uma solução para todos os problemas
relacionados ao emprego, naturalmente. Há outras questões envolvidas quando se
pensa em um projeto que ajude a evitar que as pessoas fiquem sem trabalho. No
entanto, ela corrige uma lacuna importante deixada pela baixa qualidade do
ensino e pela falta de condições dignas de moradia, saúde e alimentação, por
exemplo. Os resultados podem ser vistos conversando com jovens que foram
inseridos no mercado por meio do Programa de Aprendizagem.
Testemunhos dessa transformação se encontram aos montes no
Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR). De jovens que foram
efetivados ao final do programa a jovens que usaram as lições aprendidas para
iniciar seu próprio sonho empreendedor. Essa é, então, uma ferramenta
fundamental e eficaz, mas não pode ficar estagnada. Afinal, já se completam 21
anos desde sua implementação.
Outro aspecto importante do programa é o estímulo para que
os matriculados busquem uma formação contínua ao longo da vida. Isso é feito
por meio de uma orientação personalizada com psicólogos, assistentes
sociais, instrutores e outros profissionais. Segundo um levantamento do
Datafolha, 43% de todos os jovens aprendizes do CIEE entre 2016 e 2017 se
matricularam em uma graduação. Um passo notável para quem, até pouco tempo
antes dessa oportunidade, muitas vezes estava lidando com uma situação de
completa vulnerabilidade social. A conclusão não chega a ser uma novidade:
muitos jovens brasileiros só precisam de uma chance para mudar o rumo de suas
trajetórias.
Enquanto isso, as organizações podem moldar aquele
colaborador do zero, de acordo com as necessidades de cargos, funções e quadro
de funcionários. Quando o trabalho de inserção desse jovem é bem feito, gera-se
uma identificação quase emocional entre as duas partes, que podem crescer
juntas. Investir e contribuir para a melhoria de iniciativas como o Programa de
Aprendizagem é investir e contribuir com o futuro da economia brasileira.
José Lucio Glomb é ex-presidente da OAB/PR e conselheiro do
Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR).