Debates
Reciclar é preciso, inclusive durante a pandemia
Da Redação | 20 de maio de 2021 - 01:14
Por Isabela De Marchi
O último ano tem sido um período de desafios para diversos
setores. Com a chegada do novo Coronavírus, as pessoas têm ficado mais em casa,
recorrendo a aplicativos de entrega de comida ou mesmo compras feitas pela
internet para suprirem suas necessidades diárias. Segundo a Associação
Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), a
venda de recipientes descartáveis para comida aumentou 30% durante a pandemia do
novo Coronavírus, e com isso, consequentemente o consumo de resíduos aumentou.
É nesse momento que vemos, com mais clareza, a importância dos
trabalhadores da reciclagem, que mesmo com a pandemia tentam dar continuidade
as suas funções, seja por meio de cooperativas ou na informalidade.
Segundo levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil possuí em torno de 800 mil catadores. Deste total,
apenas 5% ou cerca de 30,3 mil estão vinculados a cooperativas e associações.
Já para o Movimento
Nacional dos Catadores de Recicláveis (MNCR), estima-se que a
categoria já alcança o número de 1 milhão de trabalhadores, muitos deles
recebendo apenas meio salário mínimo. E apesar desse alto número,
infelizmente nosso país recicla apenas 3% de tudo que produz.
O papel das indústrias também é muito importante nesse
cenário. Com a paralisação da coleta seletiva na pandemia, como forma de evitar
a proliferação da COVID-19, a solução encontrada foi guardar os materiais até
que a coleta fosse reestabelecida, o que aconteceu recentemente. No retorno,
vários protocolos de segurança para evitar o contágio foram estabelecidos.
Nosso parceiro, a ONG Instituto Recicleiros
desenvolveu um vídeo explicando o passo a passo com o objetivo de
ajudar as cooperativas ao retorno aos trabalhos de forma segura.
Mas não basta fazer nosso papel apenas direcionando o lixo
de forma correta. São necessárias metas mais ambiciosas, que olhem para todo o
ecossistema. Parcerias são muito bem-vindas para aumentar o impacto. Afinal, é
somando as forças que se consegue multiplicar resultados. Na SIG, empresa
especializada em tecnologia de envase e embalagens cartonadas, temos parceiros
para colocar em prática boas e grandes ideias, como o Programa so+ma
Vantagens, que visa incentivar a mudança de comportamento dos indivíduos em
relação aos resíduos, tornando a reciclagem uma rotina.
O programa, que em parceria com a SIG, acontece em Curitiba
(PR), oferece recompensas pela reciclagem de embalagens, ajudando a transformar
o resíduo em benefícios para as comunidades. Ele funciona por meio da
coleta desses materiais que precisam ser levados ao ponto de entrega na casa
so+ma, onde o consumidor ganha pontos que são creditados em um cartão de
vantagens e podem ser trocados por recompensas, como produtos alimentícios,
cursos, descontos no comércio local, entre outros.
A primeira casa em Curitiba foi aberta no bairro CIC, em uma
parceria entre so+ma Vantagens, SIG e governos estadual e municipal. Até o
momento, já são 539 famílias inscritas no programa que em 2020, mesmo com as
paralizações do programa por conta da pandemia, recebeu mais de 88 toneladas de
materiais recicláveis e a expectativa é que sejam abertos mais dois novos
pontos de entrega esse ano com o apoio da SIG.
Outro projeto, fruto de parceria entre a SIG e a ONG
Instituto Recicleiros é o programa Cidade+ Recicleiros. Nele, diferentes
empresas podem investir para o cumprimento de exigências regulatórias de
logística reversa. O programa implanta a coleta seletiva, assessorando
prefeituras desde a regulamentação municipal, roteiros logísticos de coleta,
processos produtivos e campanhas de comunicação para sensibilizar e orientar os
munícipes quanto ao descarte correto de resíduos.
A SIG é o investidor semente da plataforma do Programa
Cidade+ Recicleiros que hoje está presente em 16 municípios de todas as regiões
do Brasil em diferentes fases de execução, gerando mais de 760 postos de
trabalho. Até o fim de 2023, pretendem chegar a 60 municípios em operação,
atendendo cerca de 3 milhões de pessoas e criando uma capacidade de 20 mil
toneladas mensais de processamento de materiais reciclados.
Como parte da indústria, acreditamos que seja necessário
olhar para todo o ecossistema, desde a conscientização do consumidor à
existência de infraestrutura, desafios de logística, processos de reciclagem, e
também para a demanda de material reciclado. Cerca de 73% das cidades
brasileiras têm algum tipo de coleta seletiva, mas normalmente a coleta não
abrange todos os bairros e os índices de reciclagem pouco evoluem. Além disso,
mesmo que a maioria das empresas recicladoras estejam localizados nas regiões
Sul e Sudeste, os catadores de materiais recicláveis ainda são os principais
agentes ambientais espalhados por todo o Brasil.
*Isabela De Marchi é Gerente de Sustentabilidade da
SIG Combibloc para América do Sul. Trabalha há 15 anos na área de
sustentabilidade, com passagens por organizações do terceiro setor e empresas
como Monsanto e TV Globo. Formada em direito com especialização em
responsabilidade social pela FIA/USP e em gestão estratégica para a
sustentabilidade na Fundação Dom Cabral. Há 2 anos e meio lidera a área de
sustentabilidade para América do Sul da SIG Combibloc. Membro do
conselho consultivo da Fundação Way Beyond Good.