Debates
O agro procura um pacificador
Da Redação | 15 de maio de 2021 - 02:54
Por José Luiz Tejon Megido
Os humores no Brasil andam exaltados. Chacrinha, o velho
guerreiro, dizia: “Quem não se comunica, se estrumbica”. Aproveito o
estrumbica, que significa se complica, e dizer: país onde só tem briga, todo
mundo se estrumbica.
Estamos em uma fase complicada. Acabei de formar 40 alunos
internacionais, nesta semana. Jovens da África, Ásia, Europa, de todos os
continentes. Um master science em food agribusiness management.
Gestão de agronegócio e alimentos.
Esses jovens chegam para estudar sobre o Brasil e vêm com
uma percepção muito ruim, de que produzimos carne desmatando a Amazônia, de que
nossa agricultura é intensiva e que esgota os recursos naturais; uma péssima
imagem. Depois de três meses com aulas ministradas por professores e
especialistas do Brasil, eles escrevem nas suas apresentações de avaliação
finais: “o governo brasileiro e a política roubam a boa imagem das realidades
brasileiras. O Brasil é muito melhor do que parece”.
A ilegalidade de 5% na Amazônia acaba sendo usada por vozes
brasileiras como “vocês não têm nada que se meter nisso, pois já desmataram
toda a Europa”. Quer dizer, não comunicamos, afrontamos os clientes.
Um assunto velho, alguém disse no exterior: “Florestas aí,
agricultura aqui”, e logo respondemos ao ataque generalizando como se o mundo
lá fora estivesse contra nós. Supermercados fazem restrições a produtos do
Brasil pelas barreiras de reputação. Logo esbravejamos aqui que isso não passa
de concorrentes inimigos para nos prejudicar.
O agronegócio precisa de um pacificador. Lideranças que não
adorem a ideia da briga de rua, dos palavrões e do fazer a guerra.
Falar mal da China, hoje nosso maior parceiro, que tem
sustentado nossa economia nas importações e, ainda mais, de quem dependemos de
princípios ativos para vacina e também defensivos agrícolas, é no mínimo uma
burrice comercial astronômica. Falar mal da Europa, nosso segundo maior
cliente, é outra imprudência.
Dentro do país, diversas entidades não se entendem e também
brigam entre si, colocando política e ideologias no molho da separação. Quando
as palavras “clima” e “meio ambiente” são pronunciadas em vão e todos se esquecem
de falar do plano ABC +, o sonho de consumo de qualquer consumidor de qualquer
parte do planeta. E temos aqui. O Brasil precisa de pacificação.
Aos que querem o comércio, que tapem os ouvidos aos
briguentos como Ulisses, na Odisseia, voltando para casa depois da Guerra de
Tróia o fez para não ouvir o canto das sereias. No caso dos briguentos
brasileiros, não seria exatamente o canto, e sim berros e palavrões de
espíritos zombeteiros e mal-educados.
Dentro do agronegócio do país, a fruticultura que vai in
natura ao mundo precisa ser protegida. A nossa reputação como marca Brasil
será sagrada para que um consumidor do mundo saboreie um cacho das nossas uvas,
um mamão com limão, coma uma banana, cuja embalagem já nasce com ela e
esparrame pelos seus lábios uma laranja de mesa, a melancia, além de morder
suavemente as nossas maçãs, o melão e os frutos do sertão.
A sensorialidade das frutas brasileiras se tornará realidade
a partir da imagem assegurada da nossa origem. A Associação Brasileira dos
Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e seu presidente,
Guilherme Coelho, têm plena consciência dessa missão.
Ao Brasil, a paz. Que Alysson Paolinelli receba o Nobel da
Paz, com sua obra da agricultura tropical, e que possa simbolizar a
pacificação, pois precisamos de um pacificador. A tortura mental nos destrói e
cria obstáculos comerciais. Como o poeta Luís de Camões escreveu e repito:
“Quem faz o comércio, não faz a guerra”.
E como os jovens alunos internacionais afirmam: “o Brasil é muito melhor do que parece”.
José Luiz Tejon Megido, mestre em Educação Arte e História da Cultura pelo Mackenzie, doutor em Educação pela UDE/Uruguai e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)