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Humberto Maturana e a autoprodução contínua da vida

Imagem ilustrativa da imagem Humberto Maturana e a autoprodução contínua da vida

Por Giovani Marino Favero

Em 2003 me inscrevi, sem pretensão alguma, em uma disciplina de Imunologia, durante meu mestrado na USP. O principal condutor dessa matéria foi um professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Nelson Vaz. A primeira hora de aula mudou minha forma de pensar biologia e tudo que nos envolve para sempre. O brilhante Vaz introduziu em pouco tempo de fala, o conceito de Autopoiese e os pesquisadores Francisco Varella e Humberto Maturana. Aquele primeiro encontro foi muito mais importante do que anos de estudo dessa matéria na graduação.

  Na última quinta-feira, 6 de Maio, Humberto Maturana faleceu aos 92 anos de idade. Não sei de cabeça o nome de cinco ganhadores do prêmio Nobel, mas com certeza aprendi muito com os conceitos desse cientista chileno.

O conceito mais difundido da pesquisa desse grupo chileno é o da Autopoiese, que, traduzindo do grego poesis, significa produção, assim temos autoprodução. Estamos constantemente nos moldando; os conceitos de fenótipo, genótipo agora tem mais um importante ingrediente, você. O que sua mãe fez, comeu, pensou, sofreu, sorriu, durante a gravidez, teve impacto na sua formação gestacional; A quantidade de leite que tomou, a intensidade de luz do sol, as primeiras e a última refeição, se você faz esporte, se dorme cedo, se lê, se foi alfabetizado pelo método fonético, o que você escuta, onde mora, altitude, resumidamente tudo que nos cerca e com o que interagimos, associado as nossas heranças genéticas, nos moldará continuamente.

Imagina isso sendo aberto para um jovem empolgado e apaixonado por pesquisa na área de Imunologia, estudando na melhor Universidade do país, sem dinheiro, cheio de amigos e sonhos. A imunologia do “reconhecer e atacar” acabava ali; A avaliação de tudo que nos cerca mudou para sempre; A história de tudo e de todos faz parte do que esta acontecendo agora, individualmente ou coletivamente. Na graduação escutei um docente falar uma vez: “O acaso interveio” e isso me marcou por muito tempo até conhecer o conceito proposto por Maturana, onde basicamente tudo intervêm.

Essa linha de pensamento rapidamente ultrapassou os limites da biologia e foi difundida nos estudos de sociologia, política, economia, e no que for possível pensar. “ Todo ato de conhecer faz surgir um mundo”. Estudando um pouco mais a fundo esse grupo de pesquisadores, desde o início, nunca tiveram a pretensão de ser uma visão definitiva do conhecimento sempre enfatizando que a interpretação é maior que o fato em si: “ ‘Ao contrário, fatos é o que não há; há apenas interpretações’. Não podemos constatar nenhum fato ‘em si’: talvez seja um disparate querer algo assim. Tudo é subjetivo.”

Se Varela e Maturana não ganharam um Nobel, azar do Nobel. Varela faleceu no início do século, Maturana faleceu semana passada; Em todo o mundo, e, em especial na América Latina, o legado dos precursores da Autopoiese ainda motivará jovens cientistas à procura de conhecimento.

Giovani Marino Favero é Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UEPG

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