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A desativação do manancial Alagados
Da Redação | 05 de maio de 2021 - 01:36
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Semana passada os jornais de Ponta Grossa noticiaram o
anúncio, feito pela gerente regional da Sanepar, da planejada desativação do
uso do reservatório de Alagados para abastecimento da cidade. As notícias dão
conta de que a partir de 2026 estaria sendo captada água do Rio Tibagi, a um
volume de 600 litros/segundo. O investimento estimado para as mudanças seria de
R$200 milhões.
Por vários motivos a notícia intrigou-me bastante. Quem vai
pagar essa conta? Qual o motivo da mudança? Dificuldades operacionais ou
simples necessidade de aumentar a oferta de água na cidade que cresce e consome
cada vez mais? O volume d’água de Alagados vai continuar sendo aproveitado pela
captação a jusante, no Rio Pitangui?
Alagados abastece Ponta Grossa há mais de cinquenta anos. A
estação de tratamento instalada no início praticamente baseava-se somente na filtragem
das partículas finas em suspensão, pois a água era muito limpa. A bacia de
captação era então bastante preservada. Ao longo das décadas isso mudou muito.
Atualmente a água captada pela Sanepar nos Alagados apresenta problemas com
poluentes e proliferação de algas tóxicas.
Já no Rio Tibagi a situação é muito mais grave. O rio recebe
afluentes urbanos e do distrito industrial e sua bacia de captação é
praticamente tomada por atividades agrícolas. Por certo seu uso como manancial
implicará tratamento cuidadoso, e caro.
A Sanepar analisou a alternativa de poços tubulares
profundos, os ditos “poços artesianos”, para suprir a crescente demanda em
Ponta Grossa? Apesar de também apresentar senões, o principal deles sendo o
risco de poluição quando da ausência de políticas públicas protetoras, o
manancial subterrâneo tem muitas vantagens em relação ao superficial: a
qualidade da água, na maioria das vezes classificada como água mineral,
dispensando tratamento; a possibilidade de localização do poço próximo à
comunidade consumidora, dispensando longas redes de distribuição; a produção
constante, que independe das anomalias de chuvas e estiagens.
Ponta Grossa está sobre o Aquífero Furnas, que fornece água
de muito boa qualidade. Um poço produz a água mineral Royal Fit, que é envasada
e distribuída regionalmente. Até agora o município tem conseguido afastar os
riscos de poluição do aquífero, as áreas de recarga estão livres de indústrias,
aterros e outras potenciais ameaças.
Os poços tubulares profundos existentes permitem estimar uma
média de 10 m³/hora para os poços no Furnas. Os 600 litros/segundo mencionados
pela Sanepar equivalem a 2160 m³/hora. Então, com 216 poços seriam alcançados
os 600 l/s mencionados pela Sanepar. A um custo estimado de R$100 mil por poço,
um valor bem exagerado, o custo total seria de R$21,6 milhões. Muito menos que
os R$200 milhões mencionados pela Sanepar, ainda que se somassem custos
adicionais com distribuição.
Vale então a pena estudar bem a alternativa dos “poços
artesianos”.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG