Debates
O que as filas têm a nos dizer e como elas podem nos ajudar?
Ponta Grossa poderia usar as filas da vacinação para arrecadar alimentos para pessoas carentes, diminuindo (ou ao menos amenizando) a fila em busca do Vale-Mercado
Da Redação | 23 de abril de 2021 - 01:50
Por Everson Krum
Ponta Grossa se tornou notícia nacional no começo desta
semana depois que imensas filas se formaram para o cadastro do vale-mercado,
uma ajuda de R$ 150 em crédito no Mercado da Família para pessoas carentes. A
situação nos mostra algo delicado: precisamos entender o que essas filas têm a
nos dizer e como outras filas podem nos 'ajudar' a amenizar o grave problema da
desigualdade social na Princesa dos Campos.
O 'vale-mercado' foi aprovado pelo Legislativo após intensa
discussão sobre uma possível ampliação do valor de R$ 150 para R$ 300. Semanas
após o embate político notamos que nós, enquanto sociedade, demoramos e muito
para auxiliar aqueles que estiveram desamparados neste período e também que os
R$ 150 são um valor baixo, assim como até mesmo o vale-mercado de R$ 300 também
seria insuficiente diante das necessidades latentes.
A pandemia tornou ainda mais profunda a divisão entre ricos
e pobres em nossa sociedade, já amplamente marcada pela desigualdade social.
Impedidos de trabalhar, eventualmente desassistidos do auxílio emergencial por
motivos diversos ou vendo seu trabalho minguar diante das medidas de
distanciamento social e das mudanças na nossa vida, muitas pessoas têm tido
dificuldades em ter o básico para se alimentar.
As enormes filas formadas para o cadastro de famílias carentes
em Ponta Grossa mostram que é essencial pensar em políticas públicas e ações
imediatas para ajudar quem mais precisa. Diante disso há uma outra fila formada
em períodos de pandemia que pode ajudar no enfrentamento da profunda
desigualdade social: a fila da vacinação que segue longa e demorada.
Neste caso, a Fundação de Saúde e a Fundação de Assistência
Social poderiam criar um mecanismo de arrecadação de alimentos nas filas da
vacinação. O mecanismo aqui sugerido é simples: incentivar que cada pessoa que
vá se vacinar leve, se possível, um quilo de alimento perecível ou um item de
higiene para doação. No momento de felicidade da imunização, muitos (sugiro que
a maioria) iriam aderir sem pensar duas vezes.
Com o ritmo intenso da busca da vacina, Ponta Grossa teria um reforço importantíssimo também na ajuda da Assistência Social neste momento tão delicado que vivemos. Desta forma, usaríamos a fila para algo positivo: a sugestão é que aqueles que tem mais um pouco de posses e condições doem para aqueles que, neste momento, não tem o mínimo. É disso que precisamos.
Everson Krum - Vice-reitor da UEPG e ex-diretor do HU-UEPG