Debates
WhatsApp Pay e o modelo de negócios do século XXI
Da Redação | 17 de abril de 2021 - 01:01
Por Bruno Dreher
Quando assisti ao filme “A Rede Social”, que é baseado na criação do Facebook,
uma das partes que mais chamou minha atenção foi a cena do jantar onde
participavam o Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), Eduardo Saverin (Andrew Garfield)
e Sean Parker (Justin Timberlake).
A grande discussão entre Zuckerberg e Saverin era a mesma que muitas startups
têm nos dias de hoje: quando monetizar? E a sugestão do Sean Parker foi que
monetizar com anúncios no início do negócio seria como terminar uma festa legal
à s 22h.
Este é um problema que atinge a maior parte das empresas que eu conheço. A
premissa do funcionamento de um negócio é que ele tenha uma quantidade de
receitas que permitam a ela pagar suas obrigações com seus funcionários e que
possam investir em patrimônio como computadores, imóveis, aplicações
financeiras, filiais, etc.
O WhatsApp foi fundado em 2009 e, sem gerar praticamente nenhuma receita, foi
vendida para o Facebook cinco anos depois por 16 bilhões de dólares. Veja bem:
a empresa era um verdadeiro ralo de recursos financeiros. Durante cinco anos
foram investidos milhões de dólares em pessoas, computadores, servidores e
softwares sem gerar praticamente nenhuma receita. Como pode uma empresa que tem
prejuízos de milhões de dólares valer tanto dinheiro?
A resposta: tendo usuários. A partir do momento em que a empresa possui milhões
de usuários que geram quantidades imensas de dados, você pode conhecê-los a
fundo e pensar em formas de oferecer serviços que façam sentido para eles. Aí
sim é hora de gerar receitas. Há uma frase no mercado de inovação e tecnologia
que diz que “Dados são o novo petróleo”.
Após 10 anos dando prejuízos, mas crescendo a sua base de dados
exponencialmente, o WhatsApp finalmente lançou um produto que provavelmente irá
lhe gerar bilhões em receitas, facilitando ainda mais a vida do usuário. Muitas
pessoas fazem vendas por WhatsApp, conversando com seus clientes, mandando
fotos dos produtos, negociando preços e condições. E quando o negócio é
fechado, cria um boleto, manda um link para pagamento com cartão de crédito ou
envia os dados bancários para depósito.
Agora, este processo ficará mais simples: fechado o negócio, o vendedor manda
uma cobrança para o comprador que, com apenas poucos toques, irá autorizar a
transferência, que será feita de forma automática e cobrada uma taxa de serviço
das contas empresariais (contas pessoais serão grátis).
E o mais interessante: isso é lançado exatamente em um momento de crise sem
precedentes, onde as pessoas buscam novas e melhores alternativas para suas
necessidades. Demonstrando que as crises são, sim, aceleradoras das mudanças
que podemos.
Nos últimos projetos que participei, sempre fui embaixador deste modelo de
negócios e dizia: “Vamos oferecer os nossos produtos gratuitamente, aumentar a
nossa base de clientes, conhecê-los e depois criar formas de monetizar” e
sempre fui voto vencido.
No Brasil, é muito difícil encontrar investidores dispostos a fazer aportes de
muito dinheiro, durante muito tempo, em algo que tem a geração de dados como
seu maior objetivo por uma série de motivos que merecem um artigo específico.
Voltando à analogia do petróleo: primeiramente, as empresas devem extrair o
petróleo do solo, mas ninguém compra petróleo bruto. Com o petróleo bruto em
mãos, se entende quais derivados deverão ser produzidos para atender as
necessidades dos clientes.
E na tecnologia não é diferente. Primeiro, as empresas investem na extração de
dados para depois interpretá-los e entender quais produtos fazem sentido para
os clientes. E as maiores empresas do mundo (Google, Facebook, Amazon, etc)
estão aí para provar que este modelo não somente funciona, mas é o que dá os
melhores retornos nos dias de hoje!
*Bruno Dreher é futurista pela Universidade Hebraica de Jerusalém (curso de
inovação e futurismo mais prestigiado do mundo). Já prestou cursos chancelados
por Harvard, Stanford e Dartmouth e exerceu cargos de liderança em grandes
grupos de educação como Grupo A e Escola Conquer.