Debates
Kit-Covid: salvação ou danação?
Da Redação | 27 de março de 2021 - 02:32
Por Mário Sérgio de Melo
Sou do grupo de risco, ainda não vacinado, e não sou da área
de saúde. Procuro orientar-me sobre a Covid através de leituras e algumas
poucas conversas. Que confusão! O governo federal propagandeia o tal kit-Covid,
um coquetel de drogas para tratamento precoce do coronavírus. Uma tal
Associação Médica de Ponta Grossa vem a público preconizar o uso do tratamento
precoce. Questionado sobre as prioridades no enfrentamento da pandemia, o porta-voz
da AMPG alertou que a vacina é prioritária, que seria uma bobagem desviar
recursos da compra de vacinas para a aquisição do kit. Deduzo que ele quis
dizer que os recursos disponíveis no Município devem ir para vacinas, e não
para o controverso kit. Em seguida, a Câmara Municipal da cidade aprova regime
de urgência para projeto de lei obrigando a Prefeitura a disponibilizar o kit-Covid
para a população. Com quais recursos? Os das vacinas?
Ao mesmo tempo, a Associação Médica Brasileira divulga
boletim em que, em primeiro lugar, afirma que a vacinação é a medida ideal para
controlar a pandemia, e a seguir assevera que “... medicações como
hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e
colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de
benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na
fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a
utilização desses fármacos deve ser banida”. Esse boletim é assinado por
inúmeras sociedades de especialistas e associações médicas, entre elas a do
Paraná. Ele deixa claro: o kit não é controverso, ele deve ser banido.
Consultando notícias divulgadas pela BBC Brasil, El País
Brasil, Folha de São Paulo e outros veículos, vejo que o kit-Covid chega a ser
chamado de “kit-ilusão”, pois além de não ter eficácia comprovada, pode trazer
graves efeitos adversos, comprometendo fígado e rins. Vejo também que a
Organização Mundial de Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde, a ANVISA,
órgãos de saúde dos EUA e da Europa condenam o tratamento precoce.
Fico confuso. Afinal, o tratamento precoce é ou não
recomendável? Estariam os médicos de Ponta Grossa equivocados? Por qual motivo?
E os vereadores, preferem ouvir a associação médica local do que as outras
tantas entidades? Aí me lembro que médicos e vereadores são pessoas, e pessoas
são influenciáveis e falíveis. Ora, a pessoa do presidente, que defende o kit-Covid,
defende também a Terra plana ─ embora tenha um ministro astronauta que viajou
ao redor do planeta. E já se demonstrou, o negacionismo é traço de
personalidades patológicas que alimentam seu doentio narcisismo criando
situações polêmicas nas quais possam notabilizar-se.
Apesar de tanta confusão, estou decidido: não vou arriscar
meu fígado e meus rins com o kit-Covid, vou esperar a vacina, com todos os
cuidados de distanciamento e higienização. E espero que os vereadores tenham a
estatura mental, ética e humana que o cargo demanda.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG