Debates
O transformador desafio da crise
Da Redação | 18 de março de 2021 - 01:19
Por Mário Sérgio de Melo
É consenso que estamos em crise. Ambiental, econômica,
sanitária, política, social. Estão também em crise as religiões, os valores
éticos e morais. Tememos o futuro, estamos desesperançados, fazemos guerra por
motivos econômicos, religiosos, étnicos, políticos e por não suportar a paz. A
civilização está em crise! Não é pessimismo, é a realidade. Que faz pensar na
oportunidade de encontrar novos caminhos, mais adequados para o atual estágio
de evolução da humanidade, superpopulosa e com tanta tecnologia e conhecimento.
Transformar a crise atual em um passo à frente não vai ser
tarefa fácil. Vai ser um árduo desafio, ele vai colocar à prova a capacidade de
evoluirmos. A pandemia de Covid-19 está agudizando questões essenciais:
economia ou meio ambiente, saúde e vida; educação e trabalho presencial ou
virtual; estatização ou privatização? Por trás destas questões mais evidentes,
outras mais nebulosas: acreditamos ou não na ciência; somos naturalmente
ambiciosos e egoístas ou cooperativos e solidários; somos seres sociais, no
sentido mais amplo da palavra, ou somos egocêntricos, agressivos, enfim, tirânicos
e fascistas?
O sistema econômico injusto, elitista e promotor da
exclusão, o meio ambiente explorado à exaustão, comprometendo a capacidade de
sustentar a vida, as guerras infindáveis, as recorrentes pandemias, os
sucessivos golpes obscurantistas que reinstalam governos tirânicos e fascistas,
tudo é resultado da natureza humana, que se manifesta na civilização que
vivemos. Não é algo peculiar de um povo ou país, é global. Só para citar alguns
exemplos recentes, Itália, Rússia, Alemanha, Espanha, Portugal, Israel-Palestina,
Chile, Camboja, Ruanda, EUA, Brasil... A lista é enorme, independente da
situação econômica e cultural dos países. A origem dos problemas é o ser
humano, as crises só o refletem.
O desafio somos nós, os seres humanos. Temos como superar a
agressividade, o egoísmo, expressões instintivas de nosso cérebro reptiliano, e
evoluir para algo mais civilizado? Por certo que temos! O cérebro límbico (dos
mamíferos) e o neocórtex (dos humanos) já nos capacitaram o afeto para cuidar
da prole e a racionalidade para nos comunicarmos, calcularmos, planejarmos.
Muitos já afirmam que a hipófise, a glândula relativamente
pequena situada na base do cérebro, constitui o correlato encefálico da criatividade,
liberdade, compaixão, intuição, clarividência, espiritualidade, altruísmo.
Parece então que, se a evolução do réptil para o mamífero dependeu do
crescimento do cérebro límbico, a evolução do mamífero para o humano atual
dependeu do crescimento do neocórtex, então a evolução do humano atual para o
humano evoluído dependeria do avanço da atividade e das manifestações da hipófise.
Tudo indica que o progresso da manifestação da hipófise e o
surgimento do novo humano é questão de tempo, uma regra evolutiva. Resta saber
se nossos recalcitrantes instintos reptilianos não vão truncar bruscamente a
evolução natural.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG.