Debates
O que realmente aprendemos com a pandemia
Da Redação | 15 de janeiro de 2021 - 01:04
Por Danilo Xavier de Morais
O ano de 2020 foi marcante em vários aspectos da vida
humana. Falou-se muito sobre saúde, higiene, cuidados pessoais e com o próximo,
além de economia e desenvolvimento social, tudo isso atrelado à uma pandemia,
que colocou à prova o desempenho de estruturas, métodos e sistemas até então
consolidados e, por vezes, inquestionáveis. No setor educacional não foi
diferente, já que todos também foram tirados de sua zona de conforto e
convocados para viver o aqui e agora com o objetivo de manterem a missão de educadores
e propagadores do conhecimento.
Na educação básica, emergiu o desafio de manter o ensino
mesmo sem as condições necessárias habituais. Perdeu-se o contato presencial
com os alunos e gerou-se a necessidade de empregar esforços não só para que o
processo educacional acontecesse, mas também para impulsionar o uso da
tecnologia, inovação, criatividade e agilidade. Com isso, alterou-se não só a
rotina dos educadores e educandos, mas também o modo de transmitir conhecimento
por meio de plataformas virtuais até então pouco exploradas.
Em meio à tantas mudanças compulsórias, em que a autocrítica
dos processos foi ponto de partida para muitas alterações, percebeu-se o quanto
é eficiente estar sempre em movimento em uma realidade tão dinâmica quanto a
que se apresenta neste momento. E para isso, gestores e professores
compreenderam que não se podem manter estruturas ditas seguras ou métodos
arcaicos que, por vezes, foram eficazes em algum momento, entretanto, não o são
mais. No Colégio Marista de Maringá, por exemplo, precisou-se olhar além do
contexto ameaçador e se arriscar em novidades para que o impacto negativo do
isolamento social não deixasse de ser um impulso para a educação.
Como bem dizia Paulo Freire: “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”. Logo, como questionar que a pandemia não ensinou tantas coisas
apesar dos pesares? Hoje sabe-se que ser educador é mais do que um título de
licenciatura ou um diploma de pedagogia, mas a disponibilidade para manter a
alegria no aprender, ou melhor, no aprender e reaprender. É nesta constante
construção de novos saberes que o conhecimento avança, se desenvolve e envolve
novos agentes que o aplicam em um processo dialético e contínuo.
Não se pode mais pensar a educação referenciada em conteúdos
que são meramente reproduzidos pelos estudantes, a pandemia ensinou que de nada
basta ter um amplo conhecimento sem valores que sensibilizam e humanizam a
sociedade para a autopreservação e ação constante. Ou seja, não se pode pensar
em educação e processos educacionais que mantenham os estudantes alheios ao
presente. É preciso envolvê-los em situações que exijam o despertar para o aqui
e agora, mantendo-os prontos para atuarem em quaisquer condições, sejam elas de
exigência intelectual, socioemocional, ética, política, individual ou coletiva
e até mesmo espiritual.
Mais do que impactos traumáticos causados pela Covid-19 e
isolamento social, em 2021 haverá milhares de condições para o desenvolvimento
do conhecimento em todas as dimensões. Para isso será necessário que educadores
em todos os setores se mantenham em movimento de autoavaliação, autocrítica,
revisão de processos e métodos, que estejam presentes e sejam presença
significativa.
Danilo Xavier de Morais é filósofo, pedagogo e analista de
Pastoral do Colégio Marista de Maringá