Debates
Habemus vaccinum
Da Redação | 14 de janeiro de 2021 - 01:43
Por Gilberto Giacoia
A propósito da proximidade do início do esforço de
imunização de nossa população em face da pandemia de coronavírus, é importante
que o Ministério Público do Paraná, para além de sua já conhecida atuação pelos
seus setores especializados na busca do essencial, ou seja, a prioritária
defesa da vida e da saúde das pessoas, manifeste oficialmente seu
posicionamento a respeito, que é francamente favorável.
Ora, sabe-se, com efeito, que a vacinação é uma das maiores
conquistas da ciência na área da prevenção de doenças infectocontagiosas. Por
estimular a defesa do corpo contra organismos viróticos ou bacterianos que
provocam sérias enfermidades, propiciando a produção de anticorpos a partir de
alguns de seus derivados, a vacina permite a criação de uma barreira segura e
eficaz, a partir da memória imunológica de cada vacinada ou vacinado.
Quanto mais agora, quando nos deparamos com um ataque viral
altamente complexo sem precedentes e sem possíveis respostas imediatas ao
coletivo de óbitos e ao quase colapso do sistema de saúde, o que tanta dor e
sofrimento causa ao nosso corpo social, desafiando a ciência médica.
Pode-se buscar contestar, argumentando que o desenvolvimento
da solução terapêutica que ora se oferece foi demasiadamente célere para
assegurar e garantir consequências permanentes e estáveis na linha do que se
espera em processos de imunização em massa.
Contudo, tempus regit actum. A cronologia e a geografia do
vírus, que não respeita idades e fronteiras e nem experimenta compaixão, requer
pronta resposta às novas perguntas que a vida formula à humanidade em situações
de emergência.
É preciso pensar além da coluna setorial ou regional,
porquanto a vacina protege não apenas aquelas e aqueles que a recebem, mas
alcança a comunidade como um todo, pois, quanto maior for o número de pessoas
de um determinado grupo imunizadas, menor é o risco de qualquer uma delas –
vacinada ou não – ficar doente, como alerta a Organização Mundial da Saúde.
Ressalte-se que as vacinas recém-colocadas à licença das
autoridades de saúde pública foram objeto de intensivas pesquisas e, se não
apresentam índices de imunização ideais plenos, têm contabilizado bons
resultados, sem qualquer reação relevante do ponto de vista de gravidade
sanitária.
Acrescente-se a controvérsia até mesmo já anteriormente
instalada acerca de tratamentos alternativos na dimensão prevencionista, ou
mesmo de tentativas outras que não chegaram minimamente ao nível de evolução
científica dessas vacinas.
Como o contágio não escolhe classes sociais, de gênero ou
raciais, lembrando-nos que somos todos rigorosamente iguais em nossa
humanidade, é hora de nos alertarmos para a distribuição da vacina à população,
que deve acompanhar a mesma lógica.
O MPPR permanecerá atento aos critérios de adequação da
imunização segundo recomendações sanitárias, bem como aos parâmetros objetivos
de sua distribuição e mapeamento dos resultados.
Acredita-se que a vacinação inaugurará um novo tempo,
coincidindo com o início de um novo ano que se augura feliz e próspero, na
perspectiva de um renovado ciclo da vida. São movimentos que se conjugam tais
como os bons ventos a impulsionarem as caravelas da esperança de dias melhores.
Como bem propôs Sêneca, é parte da cura o desejo de ser
curado.
Que alcancemos definitivamente o estágio civilizatório que
não busque só a cura do corpo, mas as condições para que, transcendendo as
lições que a medicina pode nos dar com ela, também persiga a consciência ética
de nossa condição de dignidade humana.
Como bem alertou o Pai da Medicina Hipócrates, sedare
dolorem opus divinum est.
Gilberto Giacoia é Procurador-Geral de Justiça