Debates
Ponta Grossa entregue à direita
Da Redação | 07 de janeiro de 2021 - 02:20
Por Ismael de Freitas
As últimas eleições em Ponta Grossa consolidaram
um cenário político que vem se estendendo desde 2005, quando da posse do
ex-prefeito Pedro Wosgrau Filho. Um alinhamento à direita.
Antes disso, pode-se dizer que a prefeitura foi governada
por dois prefeitos de viés popular, Péricles de Holleben Mello (2001-2004) e
Jocelito Canto (1997-2000), este último eleito por sua postura
assistencialista. Pode-se dizer que Luiz Carlos Stanislawczuk (Zuk – 1977-1982)
não pode ser considerado conservador, pois chegou à Prefeitura na onda
antiditadura na década de 1970. Dá ainda pra afirmar que José Hoffman (1955/59
– 1962/66), deposto de seu segundo mandato após o golpe de 1964, não se
enquadra no conceito de direita.
De volta para o presente, na eleição de 2020 havia três
candidaturas de direita e duas de esquerda. Os dois candidatos progressistas
juntos conseguiram o apoio de menos de 5% da população, Sérgio Gadini (3.04%) e
Edson Armando Silva (1,79%).
Na terceira colocação ficou a candidatura que classifico
como “direita com tendência ao extremismo”. Explico. O candidato a prefeito era
Márcio Pauliki, que chegou a sugerir certo descontentamento com o presidente da
República Jair Bolsonaro e há algum tempo fez campanha para Dilma, mas seu
candidato a vice foi Ricardo Zampieri, antipetista rude e apoiador de primeira
e última hora de Bolsonaro, um governante de extrema-direita com propensão ao
fascismo, linha política que prega a eliminação dos adversários. Bolsonaro,
ainda em campanha, sugeriu “metralhar a petralhada”.
Para o segundo turno tivemos a inédita disputa entre duas
mulheres, Mabel Canto e Elizabeth Schmidt. A última foi apoiada pelo prefeito
que governava, Marcelo Rangel, que, apesar de já ter feito campanha para
candidato do PT na cidade e posado ao lado de Dilma e Gleisi, se mostrou
durante quase todos os seus oito anos de governo como antítese da esquerda,
juntamente com seu irmão, Sandro Alex.
Mas antes de falar da prefeita eleita, quero lembrar que a
sua adversária eleitoral, Mabel Canto, ainda no início de sua vida pública, não
pestanejou em atacar o PT quando, pasmem, recebeu apoio do partido para o
segundo turno. Não tenho como afirmar de forma categórica, mas suspeito que é a
única vez na história de uma eleição no planeta Terra que uma candidatura
rejeita apoio gratuito. Esse fato pode ter colaborado, em alguma medida, para
sua derrota no segundo turno por 7.463 votos, mas isso é apenas uma hipótese.
Elizabeth foi eleita ao lado de Saulo Vinícius,
ex-coordenador do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência
(Proerd) e ex-comandante da 5ª Companhia do Batalhão da Polícia Escolar
Comunitária. A escolha do vice é obvia, um militar com certa similaridade ao
presidente Bolsonaro. No entanto, durante os debates na campanha ele parecia um
comunista se comparado ao candidato a vice de Marcio Pauliki.
A professora Elizabeth, antes de ser prefeita, trabalhou
como secretária na gestão de Pedro Wosgrau e de Marcelo Rangel, sendo
vice-prefeita na última gestão do radialista. Cabe lembrar que sua atuação
frente à pasta da Cultura foi marcada pelo diálogo aberto com o Conselho de
Cultura Municipal, que tinha em sua composição à época várias pessoas de
esquerda.
Resta esperar que ela tenha a mesma postura com relação à
esquerda agora, no papel de prefeita. O problema é que na Câmara Municipal a
esquerda praticamente não existe, com exceção da vereadora Josiane Kieras (e
Coletivo) – PSOL.