Debates
A logística e o desafio da distribuição de vacinas
Da Redação | 11 de dezembro de 2020 - 04:25
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Realmente, e não é novidade para ninguém, estamos
atravessando um ano totalmente atípico. Querendo ou não, boa parte dos
noticiários nacionais e internacionais têm veiculado, diariamente, notícias
sobre a covid-19. É claro que a maioria dos temas está relacionado à saúde das
pessoas, o que é totalmente esperado e compreensível. No entanto, um setor
prioritário para a população nos dias de hoje aparece também com frequência nos
veículos de comunicação: a logística.
A partir do momento em que foram decretadas normas para o
distanciamento social e as pessoas começaram a trabalhar em casa, houve um
aumento significativo na demanda por serviços logísticos, tanto na entrega de
alimentos e refeições quanto por meio de entregas de pedidos do comércio
eletrônico (e-commerce), que têm alavancado a chamada entrega de última milha (last
mile). Grandes empresas logísticas tiveram que se reinventar e ainda estão se
reinventando para atender as novas demandas.
Com o passar dos meses, a possibilidade de que em breve a
população terá vacinas que efetivamente combaterão a covid-19, ocasiona uma
preocupação: como distribuir essas vacinas, em se tratando de um produto
complexo, para uma enorme quantidade de pessoas e num curto prazo?
Novamente a logística no centro das atenções. Grandes
empresas logísticas, como a alemã DHL, que opera em vários países ao redor do
mundo, realiza inúmeros estudos para essa mega distribuição. Segundo a empresa,
a nível mundial, serão necessários em torno de 10 bilhões de doses de vacina,
levando-se em consideração uma população de 7,8 bilhões de pessoas e uma
estimativa de imunização de 60%. Ou seja, algo realmente grandioso. Em termos
logísticos, citando apenas alguns exemplos, devem ser considerados os trâmites
de importação, a quantidade necessária de aeronaves e veículos (levando em
conta apenas os modais aeroviário e rodoviário), os armazéns especiais a serem
utilizados, bem como a quantidade de pallets, embalagens especiais, etc.
Provavelmente, o mesmo fornecedor da vacina não é o mesmo fornecedor das
seringas e das agulhas, o que, pela enorme quantidade envolvida, se torna uma
variável a mais no processo.
Se não bastasse todas as questões acima mencionadas, ainda
temos a condição de refrigeração do produto, que pode variar em função do
fabricante e da tecnologia utilizada. De uma forma geral, a temperatura de
armazenamento seria em torno de 2°C a 8°C, o que traz uma preocupação a mais
para a logística de um país tropical como o Brasil. Há casos, que possivelmente
não se aplicarão ao Brasil, de vacinas que necessitam ser armazenadas em
temperaturas abaixo de 70°C. Segundo Jackson Campos, Head Global de Pharma
& Healthcare na Asia Shipping, “será necessário muito, mas muito gelo
seco, que é o material refrigerante mais utilizado em baixas temperaturas”.
O Ministério da Saúde, por meio do Manual de Rede de Frio,
apresenta procedimentos específicos que regem as formas de como receber,
armazenar, distribuir e transportar imunobiológicos, em especial as vacinas.
Entretanto, a logística deve ficar atenta para que não haja variações fora dos
limites especificados que possam levar à perda dos produtos manuseados nessa
complexa cadeia de distribuição.
Enfim, o Brasil tem um histórico positivo no que diz
respeito à imunização da população e à distribuição de vacinas, no entanto, a
demanda que se avista no horizonte é de proporção gigantesca e exige um
planejamento logístico robusto.
Roberto Pansonato é professor tutor do Curso Superior
de Tecnologia em Logística do Centro Universitário Internacional Uninter.