Debates
O voto e o mito
Da Redação | 24 de novembro de 2020 - 03:53
Por Edu Silvestre de Albuquerque e Isonel Sandino Meneguzzo
O velho mito da sociedade patriarcal e conservadora
ponta-grossense caiu totalmente por terra nestas eleições, em que duas mulheres
disputam o segundo turno para a prefeitura. Talvez este mito tivesse razão de
ser nos primórdios da ocupação dos Campos Gerais pelas fazendas de gado, onde
às mulheres destituídas de herança paterna restava a submissão ao marido
proprietário de terras. Mas aquela sociedade ruralista se transformou
aceleradamente já no século passado com o desenvolvimento comercial e
industrial de Ponta Grossa.
A citação a seguir ilustra o contexto: "Na década de
1920, o sonho do progresso estava se realizando", e "Ponta Grossa já
era a mais "próspera" cidade do interior do estado", com "calçamento,
telefone, água encanada, rede de esgoto, hospital e possuía uma vida cultural
intensa". Ainda segundo o autor, em 1930, enquanto Curitiba tinha uma taxa
de urbanização pouco acima dos 50%, Ponta Grossa ultrapassava os 75% de sua
população em condição urbana (MONASTIRSKY, 2001, p. 44-45). Por essa época, a
sociedade patriarcal e conservadora já fora definitivamente sacudida pelos
ventos da modernização urbana.
A autonomia da mulher ponta-grossense é produto direto de sua
inserção no mercado de trabalho urbano, seja diretamente nas fábricas, no
comércio e na prestação de serviços, ou ainda nas funções públicas, que também
dão suporte para a moderna economia corporativa atraída para o município, o
maior dos Campos Gerais.
O cosmopolitismo, característica fundamental de cidades de
nossa época e, obviamente, com intenso fluxo de pessoas, vem se consolidando na
Princesa dos Campos. Universidades, shopping centers, atividades turísticas,
culturais e esportivas e o incremento da malha viária e aeroviária, certamente
contribuem fortemente para isso.
Diante deste contexto, vale destacar: alguns candidatos
representantes do espectro extremo da política local, que não foram eleitos,
continuarão levando o mito da sociedade patriarcal e conservadora adiante, na
esperança de em algum momento angariar os votos dos quais precisam para se
elegerem. Aí talvez caiba a pergunta que permeia a polarização política não só
no Brasil como em diversos países do mundo: Direita? Esquerda? Ou simplesmente
oportunismo político? Mas não adianta brigar com a realidade: o voto ponta-grossense
nunca foi tão feminino como em 2020. Parabéns às mulheres e aos homens pelo
voto consciente, e na certeza de que novas vitórias femininas ainda serão
colhidas!
Edu Silvestre de Albuquerque (Professor da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – [email protected])
Isonel Sandino Meneguzzo (Professor da Universidade Estadual
de Ponta Grossa – [email protected])