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Os passageiros de esquerda e o destino do Poseidon
Da Redação | 20 de novembro de 2020 - 02:56
Por
The Poseidon Adventure é um filme norte-americano
dirigido por Ronald Neame lançado em 1972. A película foi baseada no
livro de Paul Gallico.
O SS Poseidon é uma grande embarcação na linha do Titanic,
sendo um transatlântico que no lugar de atingir um iceberg é atingido por uma
onda e emborca totalmente. Em outras palavras, o convés vai para o fundo e o
casco para cima. Na trama Gene Hackman, no papel de Reverendo Scott, Ernest
Borgnine, interpretando Mike Rogo, e Red Buttons, como James Martin,
envolvem-se na aventura de chegar acima da linha d´água e salvar um grupo de
passageiros.
Pouco haveria o que fazer com o transatlântico, mas havia
nele esse grupo de pessoas determinadas e corajosas que desafiavam a tragédia.
Não eram todos os passageiros, mas alguns poucos.
Assim como o SS Poseidon, o Partido dos Trabalhadores (PT) é
imenso, mas uma grande onda o atingiu fatalmente, e o capitão está longe de
compreender que sua nau não mais chegará ao porto sem reparos e sem a ajuda de
um grande rebocador.
O PT surgiu nos anos 80, aglutinando sindicalismo,
intelectuais e políticos de esquerda, especialmente aqueles que retornavam do
exílio.
Nesse período, o PT conseguiu crescer e elegeu dois
presidentes da república. Por inúmeras razões de ordem política, quando
governou, deixou de promover uma reforma sindical que emancipasse os sindicatos
e os aproximasse novamente das bases, uma vez que a burocracia eternizada no
poder sindical distanciou as associações dos trabalhadores.
Já nos anos 2000, o trabalho fabril consolidava o processo
produtivo na Ásia, em especial para a China, que já vinha em forte processo de
crescimento industrial. As fábricas do ABC fechavam, base do PT, mudavam para
outros países ou diluíam-se em unidades pelo país. As pequenas metalúrgicas
fechavam. A classe operária passou a criar filhos sem perspectivas de empregos
sólidos. Sugiram os trabalhadores precários, uberizados, intermitentes e sem
vínculo de emprego.
Com isso, o PT perdeu sua principal característica: ser o
partido do operariado. Talvez, se quando no comando do país e durante a forte
expansão chinesa, pudesse negociar algo do processo produtivo industrial para o
Brasil não perdêssemos tanto. Perdeu o partido, perdemos os empregos. No
entanto, a atenção foi nula, e o Brasil perdeu a chance de negociar enquanto as
commodities tinham bons resultados no mercado global.
Restou ao PT, ferido pela Lava Jato, buscar abrigo nas
pautas de grupos sociais e de ideologia. Ocorre que nessa seara o Partido Socialismo
e Liberdade (PSOL) tem conseguido acolher com sucesso as demandas que envolvem
desde os infotrabalhadores precários até a causa LGBTQ+.
Parece que os simpatizantes da esquerda estão confortáveis
no PSOL, partido que lembra o PT dos anos 80. É como se PT e PSOL dividissem um
mesmo mercado, guardadas as proporções.
Não é causa totalmente perdida, pois o PT ainda é muito
forte, resta apenas saber como lidará com os novos desafios da política
nacional e reconstruirá sua imagem pós Lava Jato, especialmente se conseguirá
novos quadros, e se novamente conseguirá dialogar com a sociedade para almejar
novos cargos majoritários.
A missão é desafiadora.
Cássio Faeddo - Mestre em Direitos Fundamentais
pelo UNIFIEO. Especialização em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho.
Graduado em Direito pela Universidade Paulista (1994). Graduado em hotelaria
pela Faculdade de Tecnologia Hebraico Brasileira Renascença (1987). Atuação no
ensino por 15 anos para Administração Hoteleira e na disciplina de Direito nos
cursos de Administração e Hotelaria. Atuou como executivo na área da
administração hoteleira por 17 anos. Advogado militante nas áreas de Direito do
Trabalho e Direito Empresarial. Articulista de política e direito em diversos
veículos de comunicação. MBA em Relações Internacionais na Fundação Getúlio
Vargas.