Debates
Respostas antigas para uma nova pergunta: O que será da Educação após a pandemia?
Da Redação | 18 de novembro de 2020 - 03:18
Por Maira Mariano
Desde o início do isolamento decorrente da pandemia do novo
coronavírus, em março deste ano, o debate sobre as possíveis transformações na
Educação destaca-se não só no noticiário, mas nas conversas diárias entre
especialistas, não especialistas, pais e alunos. Com a recente retomada das
aulas presenciais em algumas cidades do estado de São Paulo e a provável
reabertura da totalidade das escolas e universidades já no próximo mês, ainda
pairam questionamentos que buscam responder à seguinte questão: o que será da
Educação daqui pra frente?
É inegável que o cenário atual nos faz refletir sobre o paradigma da educação brasileira. Diversos estudos e pesquisas que há algum tempo já apontavam para a superação das aulas integralmente expositivas, a necessidade de incorporação de recursos tecnológicos digitais, a renovação de abordagens pedagógicas e uso de diferentes metodologias de ensino, estiveram presentes em formações online para docentes e gestores, seminários, cursos de extensão ou aulas abertas neste momento. Essa oferta revelou a urgência de adotarmos na prática o que já se discute há décadas na teoria.
Algumas experiências, tanto no ensino público quanto no
privado, de mudanças pedagógicas e metodológicas apresentaram bons resultados
no processo ensino-aprendizagem. Assim, compreender quais foram essas mudanças
talvez nos traga a resposta que esperamos sobre o futuro da educação no Brasil.
Não há fórmula mágica, há pesquisa, estudo e investimento.
A suspensão das aulas presenciais fez com que as instituições
aderissem ao ensino remoto. Na prática, o que se viu foram professores sem
preparo para lidar com as ferramentas digitais, alunos e docentes sem
equipamentos como notebook ou celular, acesso à internet banda larga ou mesmo a
pacote de dados, insuficientes para o acompanhamento das aulas, quadro
decorrente da desigualdade social. Naquelas em que foi possível contar com
estes recursos, os educadores buscaram alternativas para poder cumprir o
planejamento letivo.
Sem dúvida, o ano foi de muitas perdas, na saúde, na
economia, no meio ambiente, na cultura e na educação. Em meio a esse cenário
negativo, porém, as demandas exigiram alternativas e, muitas destas, talvez
permaneçam no campo educacional. Uma que possivelmente será adotada por
instituições de ensino superior é o ensino híbrido. Já presente em algumas
universidades, o ensino híbrido se caracteriza por aulas em que uma parte do
conteúdo é apresentada de forma virtual- por meio de plataformas de
aprendizagem- e a outra é discutida presencialmente com mediação do professor.
A sala de aula invertida também é uma metodologia que exige essa alternância
entre o presencial e digital. Idealizador do método, Jonathan Bergmann propõe
um modelo em que o espaço físico da sala de aula sirva para que o professor
estimule os alunos a discutir e aplicar o conhecimento estudado em casa no dia
anterior, por meio de vídeos ou leituras, por exemplo.
As diferentes metodologias- sala de aula invertida,
aprendizagem baseada em problemas ou projetos, gamificação, design
thinking- têm em comum uma abordagem pedagógica que propicia ao aluno um papel
ativo no processo ensino-aprendizagem, que o estimula a ser protagonista da sua
trajetória escolar e acadêmica, além de autônomo na busca pelo conhecimento.
Independentemente da metodologia adotada, o docente se mantém como fundamental
nesse processo, como mediador do conhecimento. Isso significa eleger a prática
dialógica como norteadora do processo ensino-aprendizagem e responsável pela
sustentação da relação professor-aluno.
Assim sendo, a resposta que buscamos para a pergunta “O que será da Educação após a pandemia?” já está respondida, basta nos aproximarmos do que já propuseram educadores e pesquisadores como Paulo Freire, David Bohm, Martin Buber, e nos regermos pelo princípio dialógico. Se antes nós, professores, acreditávamos que bastava o conhecimento da matéria para se dar uma boa aula, hoje, com a internet, e todo conteúdo à disposição dos alunos, isso definitivamente deve ser repensado. Nossa função é problematizar, dialogar, promover a reflexão, visando a uma ação transformadora de todos: professores, alunos, pais, enfim, de toda a sociedade.