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Lulismo e bolsonarismo

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Por Mário Sérgio de Melo

O lulismo inaugurou a consciência de classe no Brasil, os trabalhadores que vivem constante risco de desemprego ou de aviltamento dos salários. O lulismo surgiu da organização sindical de metalúrgicos de grandes fábricas paulistas. Prosperou graças à organização sindical e ao carismático Lula. Os sindicatos viraram partido político, que cresceu, conquistou prefeituras, estados, a presidência da república. O lulismo espalhou-se pelo Brasil. O Partido dos Trabalhadores tornou-se o maior do país. No governo, o PT promoveu lenta reforma, melhorou a vida dos mais pobres, mas sem ameaçar os privilégios dos mais ricos. Diminuiu a miséria, mas não aprofundou a consciência política.

O segregacionismo e o medo fizeram os ricos atacarem ferozmente o PT e Lula: sequestradores de Abílio Diniz com camisetas do partido enfiadas pela polícia, imputação de toda a corrupção do país ao PT, massacre midiático, sabotagem do governo Dilma e golpe, prisão de Lula, o insano que esfaqueou Bolsonaro também com camisa vermelha enfiada pela polícia, são algumas das tramoias para tentar destruir o lulismo.

As elites engendraram Bolsonaro e o bolsonarismo. Eles não o queriam, mas ele se elegeu graças às forças que antes elegeram o Brexit e Trump: a chuva de mentiras nas redes sociais. Bolsonaro não era o preferido, mas distrai a população com patetadas diárias, destrói o Estado, loteia o país e aprofunda o fosso entre a multidão de pobres e os ricos cada vez mais ricos. Um fantoche, cumpre bem o papel desejado pelos ricos.

Os apoiadores do capitão não estão só nas federações e grandes corporações, na classe média retrógrada verde-amarela, na malta de lambe-botas que cerca o mito em suas aparições, nos comandos militares afeitos às ordens cegas, nos políticos picaretas. O bolsonarismo está também nas famílias pobres, nos desempregados e subempregados, nos funcionários do Estado sucateado, nos militares de baixa patente, nos evangélicos, nas mulheres assediadas, nas segregadas minorias étnicas, de gênero, etc.

Como explicar essa virulenta disseminação? Em parte é resultado da demonização contra o PT e Lula, financiada pelos ricos. É pela falta de uma consciência política mais firme da população explorada. É pela ilusão de um outro caminho capaz de trazer prosperidade e justiça social ao país. Mas isso não explica o fanatismo, que inclui a discriminação, a violência, o negacionismo, a boçalidade e a mentira. Qual o algo mais que justifica o bolsonarismo?

Analistas explicam que a força do bolsonarismo está baseada em fatores psicológicos, não sociais. Os bolsonaristas identificam-se com a truculência, o despotismo, a ignorância e a chulice do seu mito. São assombrados por fantasmas pessoais, não conseguem perceber além de si mesmos, para a complicada dimensão dos problemas sociais. A identidade do bolsonarismo não estaria, então, numa classe social, mas num traço de personalidade.

Parece que voltamos ao velho dilema humano, que Buda, Cristo, Maomé e outros tentaram elucidar: entre o egocentrismo e a solidariedade, só esta última salva.

 Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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