Debates
Ogros ou elfos: a farsa da liberdade, democracia e verdade
Da Redação | 07 de novembro de 2020 - 02:06
Por Mário Sérgio de Melo
Todos nós somos um tanto ogros e um tanto elfos, em
proporções variáveis. Dizem estudiosos da natureza humana que o ideal seria uma
ponderação entre os dois, pois ambos têm prós e contras. Entretanto, ao longo
do tempo, histórico ou pessoal, ora um ora outro se descontrola. Quem, num
mesmo dia, já não foi ogro num momento e elfo noutro?
Os dias atuais da Humanidade estão dando o que pensar. São
tempos de ogros ou de elfos? Como andam a liberdade, a democracia, a verdade,
qualidades dos elfos?
A eleição nos EUA é carregada de simbolismos. Trump
personifica a truculência, o autoritarismo, a opressão, a mentira. Há quatro
anos, quando foi eleito pela primeira vez, há quem pudesse alegar que não tivesse
certeza disso. Mas hoje já se sabe quem é o topetudo. E Trump chega a ameaçar
ganhar de novo. Não é só ele que soltou o lado ogro. Todos os seus eleitores, e
os incontáveis apoiadores mundo afora, também soltaram os seus.
Aliás, as nações são feitas de seus habitantes. Se os
estadunidenses têm se inclinado para o lado ogro, que dizer de seu país? Ora,
diriam, os EUA são a pátria da liberdade, da democracia, da verdade. São!?
Liberdade de quem, e para quê? Da Ku Klux Klan para aterrorizar e matar? Liberdade
de sufocar a imensa população negra e imigrante? Liberdade de invadir e
arruinar países pelo mundo que não rezem sua cartilha econômica e ideológica? E
a democracia? Nem internamente são democratas; massacram minorias, têm um
bizarro sistema eleitoral em que o mais votado pelo povo pode não levar, o que
tem acontecido com frequência. O que existe de democracia nos EUA depende de
exportar ditaduras impostas a países mundo afora pelos seus serviços de
arapongagem e equipadíssimo exército.
E a verdade? Tio Sam especializou-se em oferecer ao mundo o
veneno fazendo-o passar por remédio. As bombas atômicas de Hiroshima e
Nagasaki, os dois maiores atos terroristas da História, são ditos atos de
guerra necessários, para abreviar o conflito e salvar vidas. A verdade é que as
duas explosões aterrorizaram o mundo, que desde então se curva de medo e
rende-se à tirania capaz de tal atrocidade. Ademais, os EUA fabricam tiranos
líderes fantoches mundo afora, depois têm de promover guerras arrasadoras para
depô-los quando eles se insurgem contra seus criadores.
E se as armas de destruição vêm sendo incrivelmente
aperfeiçoadas, graças a gordos orçamentos de guerra, primorosas estão também as
artimanhas de manipulação da informação. A verdade nunca esteve tão distorcida.
E os EUA parecem ser a pátria da honestidade. O restante do mundo é mentiroso e
corrupto. Mas os corruptores são os agentes a serviço da hegemonia
estadunidense. E, claro, a abafada corrupção interna de Tio Sam é negociada em
secretos acordos internos, o restante do mundo não precisa sabê-la.
Vivemos um momento de farsa da liberdade, da democracia, da verdade. Soltamos os ogros, eles calaram os elfos. O apoio a Trump nos EUA e no mundo é uma prova disso. Urge nos reequilibrarmos.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do
Departamento de Geociências da UEPG