Debates
Altos e baixos
Da Redação | 27 de outubro de 2020 - 02:17
Por Marcos Pileggi
Em outubro do ano pandêmico de 2020, fiquei muito satisfeito: temas da disciplina Microbiologia, que ministro na UEPG, foram laureados com o Prêmio Nobel. Estudos com o vírus da Hepatite C, realizados deste os anos 70, permitiram a Harvey Alter, Michael Houghton e Charles Rice levantarem o caneco, ou a medalha, em Fisiologia e Medicina.
Em Química, quem levou foi Emmauelle Charpentier e Jennifer
Doudna, sobre o sistema de edição gênica que bactérias utilizam para destruir
material genético de vírus invasores, guardando pedaços em seu próprio genoma,
como uma memória de como é seu inimigo. É o CRISPR-CAS9, que tem este nome
“cool” poque são siglas que descrevem estas moléculas (Clustered Regularly
Interspaced Short Palindromic Repeats; e CRISPR associated protein 9). Fiquei
chateado pois nenhum deles é brasileiro (3 americanos, um britânico e uma
francesa).
Quando a gente começar a entender que Ciência é
colaborativa, feita com muito estudo e trabalho pesado, que exige humildade na
admissão de erros e resiliência para voltar à estaca zero e tentar acertar, aí
quem sabe. Bons cientistas deveriam ser reconhecidos mais por ajudar pessoas, do
que por ganhar prêmios.
Procurando por vídeos sobre esses trabalhos, encontrei, por
acaso, o laureado com o Nobel de Química de 2013, Michael Levitt, cujas análises
mais recentes, com seus modelos estatísticos, mostram que os lockdowns são
equivocados e provavelmente matam mais gente do que salvam. Ele critica esta
onda de Ciência ruim e cientistas arrogantes. Fico feliz por concordar com ele.
Seus artigos são complexos, não sei se o seu influencer predileto vai poder
ajudar.
Mas fico triste por ver que o mundo vai entrar em lockdown
novamente, sem pensar nos fartos dados que mostram o desastre desta estratégia.
Preguiça de pensar em alternativas, conveniência para agradar as massas,
covardia de enfrentar uma situação difícil. Não entendem que segunda e terceira
ondas são consequências de represamento de pessoas. É uma questão matemática. Analisem
o que está acontecendo no Brasil. Por que o 7 de setembro e o 12 de outubro não
deram saltos ornamentais de mortes e casos de COVID-19? E por que isso não está
sendo discutido?
São boas notícias, não? Triste por não aprenderem e admitirem que erraram. Mas feliz por ver que tem gente questionando as vacinas, difíceis de obter pelas características do coronavírus, e mesmo que sejam obtidas, terão prazo de validade limitado, devido a recombinação e mutação destes vírus. As pessoas têm o direito de saber isso e questionar. Triste por não abrirem este tipo de discussão, jogando as fichas numa eficiência relativamente baixa, custos altíssimos e liberação da vacinação provavelmente quando a população estiver com uma imunidade mais alta. Eu diria que é um negócio da China, mas têm mais países na jogada. Apesar disso, fico feliz pelos altos e baixos dessa vida, que me inspiram a escrever e brigar pela formação de cientistas humildes, estudiosos colaborativos, e questionadores.
Marcos Pileggi é professor da UEPG