PUBLICIDADE

Cresce a vergonha de assumir apoio a Bolsonaro

Imagem ilustrativa da imagem Cresce a vergonha de assumir apoio a Bolsonaro

Por Ben-Hur Demeneck

            Em Ponta Grossa um outdoor declara de modo anônimo apoio ao presidente Jair Bolsonaro. A peça publicitária instalada na rua Ermelino de Leão, em prédio das antigas indústrias Klüppel, abre um debate interessante sobre a responsabilidade das agências publicitárias em tempos de pandemia ao mesmo tempo em que escancara uma tendência política – o apoio a Bolsonaro se encontra em fase de derretimento. Quando ele se dá, se dá às escondidas.
            Às 18h25 da sexta-feira passada (31), A Rede replicou em seu portal foto e texto meus que havia postado em redes sociais a respeito da obscura peça publicitária. Para colaborar com o debate público, compartilho algumas reflexões. Desde já, agradeço ao Jornal da Manhã e ao portal A Rede pelo uso deste espaço democrático de manifestação.
            Depois de ler tudo o que se publicou sobre o outdoor, permanece a dúvida: quem pagou pela publicidade? Qual foi o constrangimento da agência de comunicação para divulgar uma produção anônima ao público ponta-grossense? Afinal, é desejável que um anunciante mostre sua cara ao público. Sobretudo quando exibe cumplicidade com políticos, a ausência de assinatura deixa sua credibilidade abaixo de zero.
Quem disse que “o agro está com Bolsonaro?” Absolutamente ninguém disse. E qual é a vantagem de jogar no anonimato? O recurso é simplório, porém bem funcional: quem fica nas sombras arvora ter uma liderança que, na prática, seria questionada no setor. É evidente que estar “fechado com Bolsonaro” não combina com precisar se esconder. Por fim, o sujeito (ou associação) paga caro para ostentar a crescente vergonha de ser bolsonarista.
            Há várias hipóteses para não se assinar tal outdoor: 1) O “agro” NÃO está assim tão “#FechadocomBolsonaro”; 2) Não se identificar permite criticar Bolsonaro caso ele prejudique as exportações agropecuárias para a China; 3) Porque Bolsonaro pode ficar  mais tóxico do que já é, principalmente se o Brasil receber sanções internacionais por conta da política ambiental; 4) Porque nem Sérgio Moro aguentou Bolsonaro; 5) Porque 45% da população considera o governo ruim ou péssimo (pesquisa XP/Ipespe divulgada em 20 de julho no Valor Econômico).
            Este artigo não questiona a questão ideológica. Qualquer um pode declarar seu apoio ou protesto a Bolsonaro. Ainda vivemos num país livre. Contudo, não é porque Bolsonaro teve uma votação maciça em PG que a fila não andou. Aliás, a erosão da popularidade de Bolsonaro se mostra em numerosas sondagens de opinião. Uma delas indica que 46% dos brasileiros nunca confia no que Jair Bolsonaro diz (DataFolha, final de junho).
            A dúvida, porém, persiste: quem pagou o outdoor de apoio a Bolsonaro em Ponta Grossa em plena pandemia? Tal indivíduo (ou grupo) fica oculto ao passageiro do ônibus “Pronto Socorro” que olhar ao cartaz gigante enquanto ajeita sua máscara e o condutor do coletivo espera o semáforo abrir.
Qualquer um dos milhares de cidadãos que circulam por aquele ponto do Centro da cidade apenas enxerga uma peça vaga, anônima e feia que se comunica dentro do espírito das fake news – é assertiva, mas não se baseia em evidências nem assume autoria.  Para azar desse tipo de comunicação, “a verdade é filha do tempo, não da autoridade”, como ensina a peça “A vida de Galileu”. Está cada vez dia mais caro e vexaminoso apoiar o “Capitão Corona”.

Ben-Hur Demeneck é jornalista e doutor em Ciências da Comunicação (ECA-USP). Integra o Grupo de Pesquisa Jornalismo, Direito e Liberdade (JDL-USP).

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MAIS DE DEBATES

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

DESTAQUES

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE