Debates
Agricultura e o coronavírus
Da Redação | 02 de junho de 2020 - 02:53
Por Antonio Roque Dechen
Vivemos um momento histórico. A novidade é a Pandemia
causada pelo novo coronavírus, preocupação geral de todos os segmentos da
sociedade. O receio e o medo levaram a população à reclusão, a proteger-se por
máscaras e ao distanciamento social, inclusive dos amigos, à adoção de novos
procedimentos de compras online e todo o cuidado no pós-recebimento com a limpeza
e a desinfecção com álcool em gel, este estrategicamente distribuído em todos
os pontos da casa.
Os comerciantes estão genuinamente preocupados, pois com o
comércio e shoppings em sua maioria fechados, restaurantes e lojas funcionando
com o sistema de entregas, observa-se uma grande mudança no nosso dia-a-dia.
Muitos de nós talvez não tenha se preocupado com esse nosso
cotidiano, pois nos alimentamos normalmente neste período atípico, com as
compras nos supermercados, açougues e farmácias online; aliás, estamos com
saudades dos supermercados e shoppings!
Assimilamos o uso do álcool em gel e da água sanitária na
limpeza das frutas e legumes; enfim, mudamos nossos hábitos, mas, com
raríssimas exceções, deixamos de encontrar nossos produtos agrícolas
preferidos.
O pesquisador da Embrapa, Mário Alves Seixas, na publicação
Diálogos Estratégicos, destaca que, a contínua disseminação do coronavírus na
China, se estenderá além do segundo trimestre de 2020. No agronegócio chinês,
os impactos negativos foram consideráveis, tanto para os setores de grãos e
óleos comestíveis, como para o de carnes (consumo e distribuição), em
consequência de cidades inteiras afetadas pelo vírus. No Brasil ainda não
estamos tendo bloqueios, mas estamos sendo afetados pelas restrições de
mobilidade da população devido ao isolamento, ressaltando que a saída para a
crise econômica é o ogro, pois o ogro não para nunca!
A grande inserção do agronegócio brasileiro no cenário
mundial e as exigências de controles sanitários dos produtos agrícolas fez com
que as grandes cadeias e as cooperativas se ajustassem às exigências
internacionais quanto aos aspectos de qualidade e sanidade dos produtos.
Esta pandemia trouxe-nos à memória, a do café nos anos
setenta, quando do aparecimento da ferrugem, que num primeiro momento, pareceu
decretar o fim da cafeicultura brasileira. Mas, na época, o ilustre pesquisador
do Instituto Agronômico (IAC), Dr. Alcides Carvalho, já tinha as variedades
resistentes, pois com sua experiência na cultura do café, sabia que a ferrugem,
mais cedo ou mais tarde, chegaria ao Brasil.
Assim, mandava as sementes das variedades de café por ele
desenvolvidas no IAC para seus parceiros de pesquisa em Portugal, que as
testavam nas colônias de Portugal na África e o informavam quais eram as
resistentes à ferrugem. E estas, ele já as multiplicava! Essa atitude evitou
uma grande quebra da cultura do café no Brasil. Hoje, além das instituições de
pesquisa, as empresas agrícolas têm programas contínuos para a obtenção de
variedades resistentes a pragas e moléstias.
Parabéns aos profissionais das áreas de ciências agrárias,
florestais e de alimentos, por contribuírem para a estabilidade social e
econômica do país pela produção de alimento e energia, que são o esteio da
sustentabilidade social e econômica de qualquer nação.
Relembrando a memorável frase do Dr. Norman Borlaug, Nobel
da Paz de 1970: “Não se constrói a paz em estômagos vazios”, registramos nosso
reconhecimento aos engenheiros agrônomos, agricultores e empresas agrícolas
que, pela participação na produção de alimentos, garantem essa sustentabilidade
e a paz no Brasil.
Por Antonio Roque Dechen, membro do Conselho Científico
Agro Sustentável (CCAS), Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo
da ESALQ/USP, Presidente da Fundação Agrisus e Membro da Federação Brasileira
de Plantio Direto e Irrigação (FEBRAPDP)