Debates
Estratégias para a retomada dos negócios
Da Redação | 12 de maio de 2020 - 02:26
Por André Coutinho
Estamos acompanhando atentamente os desafios das empresas, nos diversos setores
da economia, e assumimos o compromisso com clientes e mercado de gerarmos
conteúdos relevantes para este momento ímpar. A atual crise pandêmica trouxe
desafios complexos e que exigiram reações imediatas dos executivos. Quem
trabalha com gestão sabe bem que a combinação de tomada de decisão rápida para
temas relevantes e sob pressão não é um desafio simples. Mais ainda no contexto
atual, com a saúde das pessoas sendo diretamente impactadas.
Depois de anos de recessão tínhamos uma boa impressão de retomada da economia,
com aprovação de reformas importantes, melhores indicadores e uma agenda
positiva despontando, ainda que sempre importunada pelas constantes crises
políticas. Com isto, um otimismo moderado passou a vigorar, com empresas
reativando planos de expansão, estudando novas fontes de financiamento e
contratando profissionais.
Parece distante, mas o último trimestre de 2019 indicou um crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5%, fechando com 1,2% em 2019, invejável se
considerarmos o cenário atual. A sensação hoje é a de que a aposta no
crescimento pressionou ainda mais a sustentabilidade dos negócios. Mas não
devemos nos penalizar por isto. Não se tinha conhecimento e nem ideia do
potencial da Covid-19, logo era o certo a se fazer.
O cenário mudou e colocou à prova algo que as empresas já têm percebido ser
absolutamente indispensável na gestão moderna: a resiliência. A capacidade de
adaptação, ágil e decisiva, aliada ao momento de transformação digital, traz
uma nova realidade para as empresas. É a gestão em tempos de incerteza. É
imperativo considerar esta nova realidade nos seus planos de retomada. Aliás,
se a sua empresa ainda não iniciou este plano, lamento dizer que está atrasada.
Uma das lições que aprendemos com outros países que foram impactados primeiro
com a Covid-19, notadamente a China, é que realmente será algo tão ou mais
desafiador que a gestão da crise em si. Como analogia, não é apenas religar as
máquinas e tudo volta como era antes. Desafios de caixa, fornecimento,
contratos, gestão de pessoas e tecnologia encabeçam uma longa lista de assuntos
primordiais a serem tratados neste planejamento.
Para piorar, tudo isto em meio a uma crise, relevante por si só, mas que vem
acompanhada de outras, tornando essa gestão uma atividade ainda mais complexa.
É muito provável que será determinante para a sua empresa se e como a retomada
vai ocorrer, a sua velocidade, e se isto representará uma variação positiva ou
negativa no market share.
Mas a nova realidade citada anteriormente tem conceitos muito interessantes e
aprofundá-los vai apoiar decisões no presente e no futuro. E, muito importante,
identificar oportunidades. Parece evidente que todos nós teremos que nos
adaptar a um novo mundo e, neste sentido, alguns aspectos chamam bastante a
atenção:
- Modelos de gestão, mesmo os mais resilientes, estão sob estresse e devem
permanecer assim por um bom tempo, com temas como transformação digital,
modelos e parceiros de fornecimento (não só por just in time) e expressivo foco
no core business para manter a relevância.
- Surgimento (ou reforço para os early adopters) de um uso muito mais
colaborativo da tecnologia carrega preocupações justificáveis de várias
espécies, desde a proteção de dados até temas mais operacionais, como
capacidade da banda. Será um grande desafio saber quais investimentos priorizar
em um cenário de transformação e capital limitado
- Mudança em hábitos de consumo, com adoção acelerada do comércio "sem
contato físico", afetará muitos setores, inclusive e satisfatoriamente a
gestão pública, com o potencial crescimento de serviços públicos digitais.
- Meio ambiente e sustentabilidade serão temas abordados no curto prazo, mas
com uma visão de longo prazo. O crescimento das energias renováveis parece não
sair da pauta, mas, para agora, o debate parece ser mais sobre temas como
viagens corporativas que foram quase integralmente canceladas nas últimas
semanas. Provavelmente não vão deixar de existir, mas serão em menor número e
escolhidas com maior zelo.
- Medidas governamentais de estímulo à economia têm surgido e devem continuar
como forma de combate à recessão, mas deverá ser incorporado ao cenário o
debate sobre ajuste fiscal e ativos insolventes, o que também pode ser uma
oportunidade.
- Transações oportunísticas sendo avaliadas por Private Equity e empresas com
capacidade financeira, especialmente para ativos em setores que claramente
precisam de funding para sustentar a retomada.
As empresas passaram por um momento de reação à crise, buscaram se adaptar o
mais rapidamente possível, treinaram resiliência durante uma crise sem
precedentes e agora serão chamadas a mais um desafio hercúleo: planejar uma
retomada em um cenário em transformação.
Esta nova realidade vai transformar você, o mercado, os seus clientes e os seus
parceiros de negócios. E não há porque acreditar que não vai transformar o seu
negócio.
André Coutinho é sócio-líder de Clientes e Mercados da KPMG no Brasil e na
América do Sul.