Debates
As duas cidades em Ponta Grossa
Da Redação | 05 de maio de 2020 - 02:24
Por Isabela Gobbo
Ao andar por Ponta Grossa, conhecendo as áreas mais periféricas da
cidade vindo até o centro, é possível visualizar que dentro deste mesmo espaço
urbano há realidades muito diferentes? Através de uma pesquisa de
mestrado (desenvolvida pela autora do texto), que visou correlacionar a
inadimplência do IPTU de Ponta Grossa com a presença de asfalto
nas ruas, com a distância das vilas aos CRAS, às Escolas Municipais, aos CMEIs
e às UBS mais próximas, e com a segregação residencial a partir do valor venal
das residências, foi possível notar tendências de concentração de condições.
A primeira Ponta Grossa que pode ser notada é
a dos contribuintes que pagam o IPTU, que residem em casas mais caras, que
estão rodeados por mais infraestrutura urbana e serviços públicos e que
reconhecem sua situação de privilégio e o “bom” trabalho da gestão municipal
que investe exatamente em suas vilas o dinheiro que eles pagam neste tributo.
Já a segunda Ponta Grossa é a dos contribuintes inadimplentes,
que residem em casas mais baratas, que estão rodeados por áreas de baixa
infraestrutura e de acesso mais difícil à serviços públicos e que, por usarem
tais serviços, sentem que nas localidades onde vivem ainda se tem muito o que
fazer para melhorar.
É a existência desses extremos em um mesmo espaço urbano que
conclama para que o Poder Público planeje e atue para diminuir a distância
entre essas duas cidades. Ponta Grossa é um dos municípios que
mais cresceu nos últimos anos no Estado. Quanto mais pessoas, maior é a demanda
de serviços públicos. Apesar do Município ter tido seu Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) alto em 2010, maior do que o IDH do
Paraná no mesmo ano base, e de seu PIB per capita ter sido maior do que o
da região e do Estado em 2017, o Índice de Gini da renda domiciliar per capita,
que mede o grau de concentração de renda de uma determinada população em um
determinado espaço geográfico, evidencia que, em 2010, a renda domiciliar
dos ponta-grossenses era mais desigual do que no Estado como um todo. Com
isso, Ponta Grossa tende a ser um município rico, considerado
desenvolvido, mas que confere acesso a toda essa riqueza e desenvolvimento à
poucos, já que ela está concentrada.
O desenho da cidade e as disputas existentes sobre o poder
municipal reproduzem a desigualdade social que os dados trazidos anteriormente
destacaram. Não há como ser um bom gestor público se não se atua politicamente
para que o acesso aos serviços públicos e infraestrutura seja conferido para a
população mais pobre e, lamentavelmente, em Ponta Grossa há muito
para melhorar neste ponto. Mas só isso não basta. Para que se consolide um
processo de diminuição das desigualdades no município, é preciso tirar um pouco
de um lado através da arrecadação e destinar mais no outro com investimentos
públicos. Essa simples atuação já possibilitaria com que as duas cidades aqui
chegassem mais perto de ser apenas uma, e é isso que queremos (por enquanto),
não?
Isabela Gobbo é Advogada e Doutoranda em Ciências Sociais
Aplicadas da UEPG