Debates
A retomada precisa começar agora
Da Redação | 28 de abril de 2020 - 01:01
Por Luiz Pladevall
Agilidade deve ser uma palavra impositiva para qualquer
governo na recuperação econômica após os fortes impactos causados pela pandemia
da Covid-19. Nesse primeiro momento, nossa preocupação deve estar na oferta dos
serviços essenciais de saúde, sem esquecer que, em apenas alguns meses,
estaremos retomando as atividades com milhões de desempregados e milhares de
empresas com dificuldades de sobrevivência.
A história tem ensinado o papel indutor do Estado com
investimentos em construção de obras de infraestrutura como forma de criar
trabalho e renda para milhões de trabalhadores e serviços para as corporações.
A flexibilização orçamentária, já considerada como essencial nesse momento,
deve caminhar para investimentos que tragam retorno substancial. Por isso, o
momento exige decisões robustas para começar, desde agora, estudos e projetos
de engenharia para estarmos preparados para a saída da quarentena.
A pandemia do novo coronavírus trouxe um panorama de
incerteza mundial, reduzindo os investimentos em todas as indústrias. Antes dos
impactos causados pela Covid-19, caminhávamos para o ordenamento do setor de
infraestrutura por meio de privatizações, PPPs (Parcerias Público Privadas),
concessões, entre outros instrumentos para impulsionar os empreendimentos imprescindíveis
para as próximas décadas. O cenário mudou completamente e as previsões iniciais
precisam ser revistas e recuperadas por um outro viés. A retomada dos certames
previstos demanda um tempo que já não podemos esperar diante da atual urgência.
A engenharia consultiva pode, neste momento, preparar
estudos e projetos que agilizem e deem segurança para novos investimentos em
empreendimentos. O setor de saneamento, por exemplo, atende demandas urgentes e
que já poderiam ter sido sanadas no passado. Um país que convive com 35 milhões
de brasileiros sem acesso a água potável e outros 100 milhões com moradias que
não estão conectadas à rede de coleta e tratamento de esgoto, dificilmente
consegue evitar a proliferação de doenças.
Nessa pandemia, encontramos pessoas que sequer conseguem
atender ao quesito básico de lavar as mãos com água limpa, uma das medidas
preventivas adotadas pelas autoridades de saúde. Vale lembrar ainda dados da
OMS (Organização Mundial de Saúde), que para cada US$ 1 investido em
saneamento, há um retorno de outros US$ 4 em saúde, melhoria da qualidade de
vida, produtividade, entre outros benefícios.
A nossa resposta no atendimento da universalização do
saneamento tem sido tímida nos últimos anos. As projeções para o novo marco legal
do saneamento, em discussão no Congresso Nacional, preveem investimentos na
ordem de R$ 700 bilhões até 2033, com uma média de R$ 53 bilhões anuais.
Infelizmente, temos alcançado, no máximo R$ 15 bilhões por ano nas últimas
décadas.
O saneamento deve se tomar uma das prioridades e se transformar em uma política de Estado permanente, independente do governo de plantão, para ajudar os mais de 5.500 municípios brasileiros a oferecer infraestrutura adequada de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Caso contrário, continuaremos a relegar às populações mais pobres condições de vida que oferecem riscos à saúde. Por isso, é hora de tocar nossos projetos e fazer a diferença e garantir um futuro com melhor qualidade de vida para todos.
(*) Luiz Pladevall é presidente da Apecs (Associação
Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e
vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental).