Debates
Os 4 mil invisíveis nas demissões em Araucária
Da Redação | 25 de janeiro de 2020 - 03:15
Por Requião Filho
Poderia começar este texto em homenagem ao dia de Martin
Luther King, comemorado na última segunda-feira, 20 de janeiro, e
parafraseando-o: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos
bons”.
Qualquer semelhança com o Paraná, não seria mera
coincidência. Afinal, por aqui, ultimamente, os bons falam, enquanto os
maus, sorrateiramente, agem nas sombras. Com o anúncio do fechamento da Fábrica
de Fertilizantes de Araucária, a FAFEN, a situação ficou ainda mais evidente.
Serão 4 mil empregos diretos e indiretos exterminados, em
poucos dias. Não estamos falando de privatização, o que na visão de
alguns poderia ser benéfico, mas sim do encerramento das atividades de uma
indústria que poderia gerar imensos lucros para o país, se os dados não fossem
mascarados.
São 4 mil famílias à beira do desemprego e prestes a ser
excluídas do mercado de consumo. Na cidade que recebeu o nome do símbolo
de nosso estado, a Araucária, parece também ser simbólica a existência do
Governador, dos Senadores e de vários Deputados. Não se escuta um
pronunciamento sequer, nem favorável e nem contrário. Mas o que poderíamos
esperar?
Para os que foram eleitos e permanecem em silêncio, estas 4
mil pessoas são invisíveis, não há porque se importar com seus empregos, ou se
amanhã já não terão como levar comida aos seus filhos ou se não poderão pagar
suas contas. Para a turma dos palácios, vale apenas o Estado mínimo e a
contenção de gastos.
O que eles não percebem, já que tal informação não deve
chegar em suas redes sociais (e também não pode ser encontrada em seus próprios
umbigos), é que o aumento do desemprego certamente se refletirá em mais gastos
para o Estado, uma vez que os trabalhadores passarão a utilizar tão somente os
postos de saúde, as escolas públicas, farmácias populares e todos os serviços
públicos.
Quem pagará a conta, no final, será o Paraná e os
paranaenses. Acontece que, no momento em que estes quatro mil
desempregados e suas famílias começarem a se valer de seus direitos sociais,
estes que hoje não os enxergam e que nada fazem para manter a fábrica de
fertilizantes ativa, começarão a sentir o peso de suas más escolhas e de sua
omissão.
Talvez, tarde demais, comecem a enxergar a verdadeira
crueldade cometida por eles, ao criar um país que não mantém seus trabalhadores
dignamente.
Que os “maus”, àqueles mesmos que citei no começo do texto,
tenham no mínimo a coragem de defender suas ideias publicamente. Que passem a
gritar aos quatro ventos, para quem quiser ouvir, que não se importam com os
pobres, com o desemprego, com a desigualdade social.
Ou que, ao menos, criem consciência dessa maldade e passem a
defender o que importa: emprego, saúde, segurança e educação.A indiferença, o
ficar em cima do muro, tem destino bíblico: “Conheço a tua obra, não é frio nem
quente; quem dera fosse frio ou quente. Assim, porque é morno, te vomitarei da
minha boca." (Apocalipse 3:15,16)
Portanto, caros amigos, se confirmado o encerramento das
atividades da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados - FAFEN, em Araucária, o
custo social, sem dúvida, será imenso!
Da mesma forma, o custo nas urnas deve ser ainda maior. Se os Deputados e Senadores do Paraná não querem olhar para estes funcionários ou que os trabalhadores permaneçam invisíveis, espero que tenham ao menos a coragem de assumir seu posicionamento, se pronunciem e digam que só se interessam pelos trabalhadores em época de eleição!