Debates
A próxima década da indústria brasileira
Da Redação | 30 de outubro de 2019 - 03:29
Por Fabiano Lourenço
O início do último trimestre do ano geralmente é o período
para as avaliações de desempenho e planos para o futuro. Tempo de tentar
projetar o que virá nos próximos ciclos, o que nunca é tarefa fácil. No âmbito
pessoal, muitas pessoas recorrem a estudos científicos e pesquisas para
conseguir algum tipo de controle a respeito do que está por vir. No mundo
corporativo, isso não é diferente, instituições renomadas e especialistas são
responsáveis por fornecer alguma ideia do ambiente que deve ser encontrado nos
próximos anos.
É desnecessário dizer que o Brasil reserva muitas surpresas
e, frequentemente, desafia até mesmo as mentes mais brilhantes a entender em
que o crescimento do país estará embasado durante os próximos anos. De acordo
com o que é possível avaliar no setor industrial, há razões para acreditar em
uma retomada de médio e longo prazo. Para ter uma ideia, estudos recentes da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que o PIB do setor deve ter
uma expansão de 0,4% este ano, resultado praticamente estagnado, embora já fora
da recessão.
Apesar da distância visível em relação aos índices
expressivos de crescimento de países como a China e outros emergentes, é
necessário investir desde já para capturar o potencial que o mercado brasileiro
deve apresentar nos próximos anos. E, no cenário atual – em que mesmo os juros
baixos estão longe de representar abundância de crédito – investimento demanda
conhecimento aplicado do que realmente pode diferenciar companhias líderes de
mercado das demais.
Nesse sentido, apesar das surpresas que o futuro reserva,
dois pontos merecem ser destacados como alvos certeiros de investimento nos
próximos dez anos, a tecnologia e a educação. Hoje, o setor industrial
brasileiro ainda não atingiu a maturidade no uso de soluções de maior valor
agregado para aumentar a produtividade e atingir outros benefícios, como maior
acesso à informação e à segurança das fábricas e processos.
A preocupação para tornar isso realidade existe. Uma
pesquisa recente da KPMG mostra que estabelecer padrões de manufatura 4.0 é a
prioridade de 42,6% dos executivos do setor no Brasil. Isso significa que os
empresários estão em sua quase maioria preocupados com o estabelecimento de
tecnologias de automação que agreguem rapidez, segurança, menores custos e mais
produtividade, trazendo melhores resultados.
Avaliar todas as etapas do processo produtivo para
identificar erros, corrigi-los rapidamente e não repetir mais são etapas
presentes em grandes companhias há pelo menos oito anos atrás. Contudo, a
adoção de investimentos em Automação por fábricas de menor porte segue em
atraso, este principalmente relacionado ao contexto macroeconômico do país.
Outro ponto fundamental relacionado ao investimento em
tecnologia está na formação dos profissionais. Para efeito de comparação, os
profissionais de países desenvolvidos já estudam há trinta anos como a
automação é essencial para um país avançar em riquezas, produtividade,
qualidade e boa imagem dos produtos produzidos em seus países.
Aqui, profissionais responsáveis por projetar, programar,
instalar e manter as tecnologias de automação, em grande parte ainda não
passaram pelo estudo desse tipo de recurso e de seu altíssimo impacto no
processo produtivo. Esse é um fator que certamente colabora para a resistência
em mensurar o retorno do investimento que as tecnologias certamente
proporcionam.
Esses são alguns dos principais desafios enfrentados pelo
setor industrial atualmente. E, apesar do dificil caminho que sugerem rumo à
retomada econômica, é importante lembrar que as condições necessárias para que
sejam superados já estão presentes em território nacional.
Ainda que o efeito prático dessas estratégias possa ser sentido
daqui a algum tempo, é necessário investir desde já. Afinal, o Brasil necessita
de confiança. E confiança é construída aos poucos, com ambiente estável para
investimentos, infraestrutura para logística e acesso a bons profissionais.
Passo a passo, será possível concretizar investimentos e tornar o ambiente
econômico – e, claro, industrial – cada vez mais competitivo.
O Brasil tem um dos maiores potenciais do mundo em crescer e demandar tecnologias de automação. Para saber os resultados que o futuro reserva, é necessário começar a agir agora e com o pensamento dos próximos 10 anos. Estar preparado não é uma opção e sim uma necessidade.
Fabiano Lourenço, vice-presidente da Mitsubishi Electric do Brasil