Debates
Bolsonaro e a crise no PSL: Quem diria?
Da Redação | 23 de outubro de 2019 - 03:40
Por Rodrigo Augusto Prando
Mais uma crise no bojo do Governo Bolsonaro. E,
novamente, a crise foi gerada internamente, sem ação da oposição ou
da mídia, por exemplo. Em menos de dois dias, a peleja da família Bolsonaro com
o PSL e Luciano Bivar, presidente do partido, tomou uma dimensão
maior e mais grave. Em termos sintéticos, o objetivo do bolsonarismo é se
assenhorar do PSL e, especialmente, dos recursos do fundo partidário
estimado em cerca de R$ 1 bilhão até 2022.
Quem diria, caro leitor e caríssima leitora, que o PSL, um arremedo de
partido, que, na realidade, conjugou personalidades sem formação política, sem
intimidade com o espaço institucional republicano e que não só tomaram forma e
conteúdo a reboque do bolsonarismo, como, em grande parte, passaram a copiar o
gestual e a ação política de Bolsonaro ia chegar nessa situação? Quem diria? Há
o áudio editado e vazado do Presidente Bolsonaro tentando a derrubada do
Delegado Waldir, líder do PSL, em prol de Eduardo Bolsonaro, cujas
consequências foi a resistência de Waldir e mais uma derrota do Planalto.
Depois, como desgraça pouca é bobagem, Waldir também teve áudio divulgado no
qual afirma, segundo suas palavras, que vai: “implodir o presidente. Aí eu
mostro a gravação dele. Eu tenho a gravação. Não tem conversa. [...] Eu sou o
cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa p***, eu andei no sol em 246
cidades, andei no sol gritando o nome desse vagabundo”.
O tratamento, aqui, no
trecho, dispensando ao Presidente da República, é bem peculiar e característico
do grupo que chegou ao poder. E, para piorar, outro ataque foi desferido na
direção da Joice Hasselmann, que foi destituída do posto de líder do Governo no
Congresso. O sentimento de Joice foi de traição, de rejeição e, o pior, de
subtração de poder. Afirmou a deputada que a inteligência emocional de
Bolsonaro é menos 20 e, ainda, não poupou críticas a Eduardo Bolsonaro, a quem
chamou de “aspone”. Sinal dos tempos, contudo, é quando uma das análises mais
pertinentes do quadro em tela, vem de Alexandre Frota, ex-PSL e atual
tucano, afirmando que “a incompetência de Bolsonaro é tanta que se candidatou
dizendo que acabaria com o PT, mas acabou foi com o PSL, partido que deu a
ele a oportunidade de se eleger”. Preciso. Cirúrgico. E, ao que parece, a briga
está longe de terminar, mas já há uma outra derrota governamental: a retirada,
por enquanto, da indicação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada nos EUA.
Quem diria que Bolsonaro, que queimou Bebianno e Santos Cruz, para ficar nos
notórios, faria isso com Delegado Waldir e Hasselmann? Bolsonaro decidiu manter
o clima eleitoral mesmo após as eleições. Resolveu governar assentado num
estilo confrontador, belicista mesmo, partindo para o ataque dos adversários
(transformados em inimigos) e dos aliados, por incrível que pareça. Resolveu,
também, governar sem construir uma base de apoio, jogou na vala comum o
“presidencialismo de coalização”, considerou-se portador da “nova” política em
detrimento da “velha”, na qual localiza todos os vícios, “toma lá dá cá”,
fisiologismo e corrupção. Escrevi, alhures, que, se durante as eleições, a
estratégia do confronto deu certo, contudo, no campo da gestão, as coisas não
funcionam assim. Aliás, o PSL e o Governo, ambos organismos vivos,
parecem apresentar-se num estado patológico, de quase anomia. Há jornalistas
que me questionaram se 2022 já começou e lhes respondi que 2018 ainda não
terminou.
Rodrigo Augusto Prando - Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas. Graduado em Ciências
Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.