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Especialista alerta para a identificação precoce da surdez neonatal e infantil
Da Redação | 18 de outubro de 2019 - 01:23
Por Rafael Francisco dos Santos
Cerca de 25 milhões de brasileiros têm algum grau de perda auditiva.
A surdez ou hipoacusia, pode ser congênita ou acontecer durante a primeira
infância. Infecções durante a gravidez ou durante o parto, prematuridade, além
de lesões herdadas geneticamente são fatores de risco. A perda da habilidade auditiva
tem consequências sociais importantes para a criança como a limitação de
interações sociais, prejuízos ao aprendizado e desvios de comportamento.
Os pais devem estar atentos às respostas auditivas do bebê
desde o primeiro dia de nascimento. Nos 3 primeiros meses de vida, deve-se
observar como a criança reage a ruídos. De 3 a 6 meses, as crianças gostam de
brinquedos que fazem barulhinhos. Os pais devem observar se o filho não
responde a este tipo de interação. A partir dos 8 meses a curiosidade e as brincadeiras
sonoras aumentam. Durante o primeiro ano de desenvolvimento, a criança faz
experiências com a própria voz e pode pronunciar duas ou três palavras.
O vocabulário da criança se expande a partir de um ano e
meio. No terceiro ano, o vocabulário pode chegar a 500 palavras e a criança
passa a elaborar frases com 4 ou 5 palavras. Estas evoluções cotidianas variam
de criança para criança e são afetadas pelo nível de interação, além da
quantidade e da qualidade dos estímulos que recebe.
Otite média é uma infeção do ouvido médio, pequeno espaço
cheio de ar atrás do tímpano. As infecções de ouvido costumam ser dolorosas
devido à inflamação e acúmulo de secreção. Quando o déficit auditivo não é
neonatal, as otites de repetição podem ocasionar problemas auditivos importantes
durante a primeira infância. As otites médias agudas que ocorrem mais nos meses
frios, quando recorrentes, podem gerar perdas auditivas que impactam no
desenvolvimento da criança.
A otite serosa, presença de muco dentro do ouvido da criança,
também é causa comum de perda auditiva. A doença ocasiona uma surdez de
transmissão, que ao ser tratada propicia a recuperação completa da audição.
No Brasil a Triagem Auditiva Neonatal (TAN), que detecta a
surdez em recém-nascidos é uma obrigação dos hospitais prevista em lei desde
2010. Este tipo de triagem, também chamado de “teste da orelhinha” é um exame
simples, rápido e indolor, baseado em testes eletroacústicos e/ou
eletrofisiológicos que identificam distúrbios auditivos.
Quando há suspeita de surdez, os pais devem imediatamente
procurar um especialista em otorrinolaringologia, ramo da medicina que trata do
nariz, dos seios da face, dos ouvidos, da faringe e da laringe. O
otorrinolaringologista vai realizar exames clínicos e testes diagnósticos que
garantem o diagnóstico adequado.
Em casos de surdez na infância, o diagnóstico precoce é
decisivo para o desenvolvimento da criança. As demais conquistas sociais e de
saúde do surdo neonato ao longo da primeira infância dependem das ações
adotadas pela família nos primeiros meses ou anos de vida, pois a
neuroplasticidade do córtex auditivo cerebral, capacidade do cérebro aprender e
desenvolver a linguagem, é muito grande do nascimento até o segundo ano de vida,
a partir do segundo ano essa capacidade cerebral diminui progressivamente
dificultando o aprendizado e desenvolvimento linguístico. O tratamento, a
qualidade do aprendizado formal, as interações sociais e o desenvolvimento da
linguagem são otimizados a partir do diagnóstico precoce.
A perda de audição pode acometer indivíduos em qualquer fase
da vida e pode ser classificada em graus: leve, moderado, severo e profundo. Diante
de qualquer sinal de surdez, deve-se procurar auxílio médico. O Sistema Único de
Saúde (SUS) oferta tratamentos clínicos, cirúrgicos e de reabilitação na área
de otorrinolaringologia. No próximo artigo vou abordar o tema “quando e onde
procurar tratamento”.
Dr. Rafael Francisco dos Santos é Médico Otorrinolaringologista