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Cidade inteligente: uma via de 'mão dupla'
Da Redação | 28 de setembro de 2019 - 02:53
Por Fabrício Ormeneze Zanini
O uso planejado de tecnologia, sustentabilidade e
integração, com o objetivo de prestar melhores serviços e propiciar uma melhor
qualidade de vida à população, parece um caminho sem volta. O ranking Connected
Smart Cities, realizado pela Urban System, avalia cerca de 700 cidades brasileiras
e reforça os ganhos que as estratégias aplicadas pelos municípios vencedores
vêm proporcionando no dia a dia dos cidadãos.
Mas essa “receita” de sucesso é responsabilidade apenas de
órgão públicos? Não! Veja, por exemplo, o quesito mobilidade urbana: só
funciona bem se tiver a colaboração de todos os cidadãos. Não bastam leis bem
elaboradas, pois, se não forem respeitadas, o trânsito se transforma num caos.
Só flui bem quando motoristas, ciclistas e pedestres entendem seus papéis,
responsabilidades, vantagens e desvantagens de cada agente participante.
A mobilidade urbana, inclusive, é um dos pontos que mais
destacam a inteligência das cidades. Curitiba, eleita primeiro lugar no
ranking Connected Smart Cities de 2018, galgou posições, ao longo dos anos, por
suas soluções nessa área. A capital paranaense foi, e ainda é, referência
mundial em modelo de transporte público, com a criação de vias exclusivas,
terminais e linhas integradas. São mais de 1,3 milhão de passageiros transportados
diariamente em mais de 250 linhas de ônibus.
O aplicativo Curitiba 156, lançado em março deste ano com o
objetivo de abrir mais um canal de comunicação entre cidadãos e prefeitura,
alcançou mais de um milhão de acessos em cinco meses, com destaque para
consultas sobre transporte público. Além do app, a Central 156 presta
atendimento telefônico, via chat e internet, captando de forma dinâmica as
necessidades da população e problemas na infraestrutura da cidade. É
possível inclusive cruzar dados de atendimento e ranquear as principais
demandas, o que contribui com o planejamento e a tomada de decisão dos gestores
municipais.
Isso funciona principalmente com a colaboração do cidadão,
não apenas na solicitação de um atendimento que irá beneficiá-lo diretamente,
como também em situações que atinjam um grande volume de pessoas, como um
alerta sobre um poste prestes a cair ou com uma lâmpada queimada, por exemplo.
Quanto maior o uso dessas ferramentas colaborativas, mais pessoas são
beneficiadas e novas soluções são propostas.
É no dia a dia, com pequenos atos, que a transformação de
uma cidade acontece. A inovação só se sustenta se houver demanda.
Ainda são poucos os cidadãos efetivamente dispostos a deixar o carro de lado e
usar o transporte público, o que beneficia meio ambiente, sustentabilidade e
novos investimentos. Ou ainda desfrutar da implementação de ciclovias e novos
meios de transporte mais sustentáveis, pensando não apenas na sua saúde física,
mas na mobilidade da cidade. É uma reflexão necessária. O papel do cidadão
é cobrar sim, mas também informar, colaborar e fazer sua parte em pequenas
atitudes do dia a dia. E você? O que está fazendo para melhorar sua cidade de
forma inteligente?
* Fabrício Ormeneze Zanini é diretor-presidente do Instituto
das Cidades Inteligentes.