Debates
O PIB e os processos migratórios do ensino superior
Da Redação | 30 de agosto de 2019 - 01:07
Por Paulo Arns da Cunha
As vidas de Alexandre e Letícia se encontraram quando se
conheceram em uma grande universidade particular da capital paranaense - ela cursava
Comunicação e ele, Engenharia. Ambos vieram do interior - ela do Norte, ele do
Oeste. De famílias de classe média alta, o casal recebia dos pais todo o
custeio de alimentação, moradia, transporte, estudos e lazer. O dinheiro saía
do interior e era utilizado integralmente para o consumo na capital.
No último ano da graduação, o casal trocou alianças e ambos
conseguiram boa colocação no mercado de trabalho. Quando conquistaram o canudo,
já ganhavam o suficiente para criar o bebê que estava por vir. Às famílias do
interior, restaram as visitas nos finais de semana. As vidas de Alexandre e
Letícia agora eram na capital. Essa história pode justificar os dados do Mapa
do Ensino Superior no Brasil 2019, divulgado recentemente pelo Sindicato das
Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino superior no Estado de São
Paulo (Semesp). Segundo o estudo, índices como IDH, PIB e renda média costumam
ser mais altos onde há Instituições de Ensino Superior (IES).
O levantamento mostra que a presença das IES pode ser
sentida principalmente no PIB dos municípios. Aqueles que contam com cursos de
graduação têm PIB per capita médio de R$ 30,7 mil – enquanto nos que não contam
é de apenas R$ 19,7 mil. De acordo com o Semesp, os dados reforçam a
necessidade da capilarização do Ensino Superior no país, criando polos universitários
para supri-la. Segundo o Sindicato, mais empregos seriam gerados e o país
acabaria melhorando todos os seus indicadores. Sem dúvida, a migração de
estudantes do interior, como Alexandre e Letícia, para grandes centros, desloca
a força de trabalho e leva mais riquezas para as cidades universitárias.
Uma saída para esse problema da debandada de estudantes
universitários de pequenos municípios é a Educação a Distância (EAD) que, além
de cerca de 30% mais barata, pode ser cursada sem sair da cidade natal,
reforçando a economia e a população economicamente ativa da região. A EAD é
capaz de modificar o mapa de concentração de riquezas nos grandes centros,
popularizando o Ensino Superior no país e levando a educação até mesmo nas
regiões mais pobres e mais distantes.
Por outro lado, os grandes centros, que já apresentam as
maiores concentrações do PIB brasileiro, são os principais focos das IES
privadas. Não é à toa que as cidades mais ricas do país concentram um grande
número de universidades. Os dados mais recentes (2017) mostram que o número de
IES representa quase metade dos municípios brasileiros, mas pouco mais de ¼
desses municípios sediam alguma IES. A instituição privada sempre vai estudar e
escolher o município com o maior potencial de consumo, instalando-se em grandes
centros ou oferecendo cursos específicos direcionados ao público de determinada
região produtiva, como Agronomia, Engenharia Aeronáutica, Oceanografia, etc.
O que o estudo não mostra, porém, é a falta de qualidade e
credibilidade das IES brasileiras - o que pode ser medido pela enorme debandada
de estudantes para o exterior: uma pesquisa da Associação das Agências
Brasileiras de Intercâmbio (Belta) mostra que, em 2018, 50,4 mil brasileiros
foram cursar uma graduação no exterior. Isso representa um aumento de 37,7% em
relação a 2017 (36,6 mil). Esses números é que devem nos preocupar e alertar as
2.448 IES privadas para o aumento da qualidade no corpo docente, melhorias em
infraestrutura, oferta de cursos para as novas demandas do mercado,
certificação com reconhecimento no exterior e adaptação didática e tecnológica
para receber essa nova geração de estudantes.
*Paulo Arns da Cunha é presidente da Divisão de Ensino do
Grupo Positivo.