Debates
Como lograr um povo e um país
Da Redação | 05 de julho de 2019 - 02:57
Por Mário Sérgio de Melo
Não é tão difícil lograr um país e todo seu povo, basta ter
à mão os meios necessários para tanto. Às vezes o cidadão será logrado de bom
grado, até ajudará no logro de outros cidadãos. Este cidadão ao mesmo tempo
logrado e logrador ambiciona usufruir também dos privilégios do logro.
Mas vamos ao que interessa: o que é preciso para lograr o
cidadão comum? Primeiro é preciso um bom número de homens ditos públicos, mas
que há muito tempo deixaram de sê-lo. Não têm mais escrúpulos nem princípios
éticos, não sabem mais o que seja o espírito público. São políticos, juristas,
empresários, pelegos, militares, funcionários. Homens que decidem sobre as
leis, os cargos públicos, o uso do dinheiro do país, os rumos a seguir.
Depois, é preciso controlar as informações, isto também é
essencial. Vivemos a era da informação. TVs, rádios, jornais, revistas, as
mídias sociais devem ser capazes de divulgar somente informações que reforçam o
logro, e esconder aquelas que poderiam despertar os logrados.
Terceiro, é preciso que o sistema educacional mantenha os
logrados na infantilidade cívica. É mais certo que se tenha sucesso em lograr
os analfabetos políticos, incapazes do senso crítico e da autonomia.
Estes são os três ingredientes essenciais para o logro:
dirigentes corrompidos, mídia facciosa e mentirosa, povo civicamente infantilizado.
Há, claro, muitos outros ingredientes que adicionam requintes ao logro. É
preciso ter aliados externos poderosos, eles auxiliam com recursos financeiros,
com tecnologia de arapongagem e inteligência, com a farsa das declarações de
reconhecimento de uma sórdida diplomacia. É bom que o país logrado tenha o que
oferecer a estes poderosos aliados externos. Petróleo, minérios estratégicos,
farta água potável, vastos solos agricultáveis, a Floresta Amazônica, um
mercado de duzentos milhões de consumidores, o controle geopolítico da América
do Sul e do Atlântico Sul, uma enorme extensão de mares territoriais deverão
bastar para saciar a sanha desses vorazes aliados externos.
Convém também firmar uma sólida rede nacional de comparsas
que controlam a economia do país. São os grandes banqueiros, especuladores, empresários,
proprietários de terras, que vivem dos juros da dívida pública e da exploração
do trabalho, decidem sobre os investimentos, os empregos, e assim podem sabotar
a economia do país, se isto for conveniente para, por exemplo, deflagrar golpes
e derrubar governos democraticamente eleitos, se estes se opõem ao grande
logro.
Convém também pesquisar sempre as técnicas mais sofisticadas
para cooptar os oportunistas que apóiam o logro, e que são conscientes dele. E
para engambelar e aqueles que apóiam o logro iludidos, acreditando que ele é a
salvação da pátria. Estes, coitados, são a maioria. São os logrados que julgam
que são os cidadãos exemplares, que finalmente deixaram de ser ignorados, e
agora são paladinos da cidadania. Exibem as cores da bandeira sem noção que
estão a serviço do loteamento do país para a rapinagem internacional.
Estes logrados acreditam que agora a boa índole inerente de políticos, autoridades, patrões vai resolver os problemas do país. E consuma-se assim o logro.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG