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Temporais: de onde vêm e o que fazer
Da Redação | 03 de julho de 2019 - 02:50
Por André Ferretti
O ano de 2019 está sendo marcado por grandes tempestades.
Cidades em todo o país registraram chuvas intensas com mais de 100 milímetros
em poucas horas, fortes rajadas de vento, quedas de árvores, desmoronamentos e
alagamentos de ruas e avenidas, impactando a vida de milhares de pessoas.
Grandes tempestades foram registradas nos estados de
Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro,
Santa Catarina, Paraná, Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul, Pará e
Rondônia. A pergunta que muitos estão fazendo é: o que estaria causando
essas mudanças no padrão de chuvas e temperaturas em todo o país? Apesar de não
ser possível afirmar que um único caso seja efeito da mudança global do clima,
sabemos que o aumento na intensidade e frequência desses eventos extremos é sim
resultado dessa mudança.
Um estudo conduzido pela Universidade da Califórnia,
publicado no International Journal of Climatology, revela que as mudanças
climáticas são responsáveis pela alteração no padrão de chuvas no Brasil. As
conclusões do trabalho, baseadas em 70 anos de dados meteorológicos, mostram
que as ilhas de calor em grandes metrópoles criam condições para a formação de
tempestades, que são intensificadas devido à proximidade com o Oceano
Atlântico. O levantamento ainda destaca a tendência de um ressecamento das
regiões Norte e Nordeste e um umedecimento do Sul e do Sudeste.
O clima já mudou e, infelizmente, continuará sofrendo
alterações se a população mundial não adaptar rapidamente seus hábitos de vida
e consumo. A grande exploração de combustíveis fósseis como diesel, gasolina,
querosene e carvão mineral; os altos índices de desmatamento; e a produção
agropecuária com alta intensidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE),
sem o uso de técnicas de redução, são os principais fatores que agravam o
problema.
A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
recomenda há anos que todos os países membros tenham um plano de ação para
adaptação. Em maio de 2016, o Brasil instituiu o “Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima” (PNA), com
o objetivo de promover a redução da vulnerabilidade nacional às mudanças
climáticas e realizar uma gestão do risco associada a esse fenômeno. É mais do
que urgente a necessidade de o poder público implementar o PNA nas esferas
nacional, estadual e municipal.
O primeiro passo a ser dado é um amplo reconhecimento pelas
instâncias de governo e pela sociedade como um todo que a mudança global do
clima é um dos maiores desafios da nossa civilização. A partir dessa
consciência, é preciso investir em políticas públicas de redução de emissões de
GEE e de adaptação para garantir a segurança e a qualidade de vida da
população, bem como aproveitar as oportunidades decorrentes da necessidade
global de tecnologias e produtos de baixo carbono.
Por se tratar de uma tendência mundial, os empresários que
investirem nesse segmento terão cada vez mais demanda por produtos e
tecnologias como: veículos elétricos; combustíveis e energias renováveis;
máquinas e equipamentos mais eficientes; e alimentos e produtos mais saudáveis,
que possuem baixa de emissão.
Também é preciso mapear as regiões mais vulneráveis a
alagamentos e deslizamentos de terra e retirar as pessoas das áreas de risco,
como margens de rios e encostas íngremes. É necessário manter parques, praças e
ruas arborizadas para diminuir o efeito das ilhas de calor, que atraem as
grandes tempestades. Outras ações importantes são a instalação de pavimentos
mais permeáveis e o descarte correto do lixo. Trata-se de uma questão de
segurança pública e sua efetiva implementação é fundamental para a redução de
riscos e impactos socioeconômicos e ambientais.
* André Ferretti é engenheiro florestal, mestre em Ciências
Florestais, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário
de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da
Natureza.