Debates
Porque a Lava Jato não pode parar
Da Redação | 27 de junho de 2019 - 01:51
Por Marco Tadeu Barbosa
A relevância da Lava Jato vai além dos corruptos que
prendeu. Gerou uma reflexão coletiva a respeito de questões essenciais sobre
quem somos como povo, do que somos feitos. E sobre como a crise de democracia
que estamos vivendo hoje tem relação com o fato de a corrupção no nosso país
não ter sido até aqui um ponto fora da curva, mas praticamente a estrada por
onde circulou uma parte significativa do poder e da riqueza.
Em toda a sua história, o Brasil olhava para o alto para ver
a bandeira tremular com a frase “Ordem e Progresso” enquanto, aqui embaixo,
adotava outro lema para levar a vida: criar dificuldades (políticas e legais)
para ganhar facilidades (financeiras).
Claro, não foi a Lava Jato que fez nós nos enxergamos no
espelho. Os brasileiros já sabiam de tudo isso antes de a operação iniciar. Mas
talvez, foram essas investigações mais duras contra a corrupção que reaqueceram
a discussão sobre o assunto, adormecida há tanto tempo, limitada talvez aos
corredores de universidades ou salas de pensadores. Foram elas que movimentaram
de novo as ruas, que geraram indignação coletiva e, assim, incomodaram a velha
política, que atuava tranquila, sem enxergar no horizonte qualquer sinal de
punição.
A Lava Jato não foi perfeita. Sabemos que o Brasil ainda
engatinha na execução de suas leis e na prática da democracia. Porém, é
inegável que a operação jogou luz em muitos cômodos escuros, em que até mesmo a
Justiça parecia ter perdido a vontade de entrar.
A consequência de termos visto de tão perto o tamanho do
câncer foi o desejo coletivo de entender nossa doença profundamente, em vez de
fecharmos o ângulo da lente apenas nos sintomas. Desistimos de nos enganar,
acreditando que apenas prender este ou aquele curaria o mal. Passamos a
discutir reformas e a apostar em um sistema novo, sem os vícios antigos. A
causar medo nos políticos que eram, na verdade, criminosos. E, principalmente,
a nos envolver com a mudança.
Não é simples ajustar uma economia em um país que sempre a
conectou com o que é político. Também não é fácil promover crescimento em um
Brasil em que a obrigação de prometer favores e acomodar parentes e amigos
sempre foi o corriqueiro. A resposta à pergunta “O que eu ganho com isso?”
continuou sendo o cimento de boa parte do que construímos, mesmo depois de
liquidado o Império e proclamada a República.
Mas a Lava Jato mostrou que podemos, sim, ter um país maduro
e igualitário, em que o patrimonialismo para de despejar na rua, que é de
todos, o sujo de suas mansões partidárias, cujos membros da família servem
apenas a seus pais. E que, se queremos ter alicerces fortes para o
desenvolvimento humano e econômico do Brasil, temos que começar a mexer na
nossa lama para que ela pavimente de uma vez o nosso crescimento.
Marco Tadeu Barbosa é presidente da Faciap