Debates
A maior manifestação da educação da história brasileira
Da Redação | 18 de maio de 2019 - 03:39
Por Allen Habert
15 de maio de 2019 inscreveu-se gloriosamente na história da
educação no país. Paulo Freire, patrono da educação brasileira, piscou e sorria
confiante através de um cartaz na traseira de um caminhão de som na Av. Paulista
em São Paulo de sol e garoa.
Nas ruas, a emoção e a esperança tomaram conta de 222
cidades com mais de 2 milhões de manifestantes ocupando seus lugares centrais.
São Paulo 300 mil, Belo Horizonte 250 mil, Rio de Janeiro e
Recife 150 mil, Fortaleza 100 mil, Brasília e Salvador 50 mil
participantes...brilharam com os estudantes, crescidos no século 21, os
professores, pais e avôs conscientes alegrando e animando com sua indignação e
leveza a alma do povo brasileiro.
Ao caminhar com os pés livres e olhos bem abertos durante 4
horas na Paulista, lembrei de muitos guerreiros e educadores que tinham lutado
e nos legaram conquistas essenciais na educação. A longa batalha da escola e da
universidade públicas e gratuitas. A democratização do acesso a elas na
Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases, os avanços ainda tímidos
contra as discriminações de cor no ensino superior. A ampliação das bolsas de
estudo dentro e fora do país que está bloqueada hoje, a educação continuada dos
profissionais universitários que ainda está tímida e órfã.
Um fio invisível nos uniu e conduziu ligados a este passado
de lutas em todas estas marchas. É a força da memória e da história.
O que o MEC, seu ministro e o presidente mexeram foram com
mais de 70 milhões de estudantes de todos os níveis. Um terço da população
brasileira estuda. A China tem 30%, os EUA 25%, o Brasil 33%. Além dos 2 milhões de professores. Foi uma
representação significativa e mais mobilizada deste gigantesco oceano que
compreendeu o drama vivido e foi às ruas explicar a todos que os cortes e os
contingenciamentos para a educação têm que recuar.
É uma questão que afeta a batalha do desenvolvimento
soberano, da CT&I e da cultura. Afeta a indústria, a agricultura, o
comércio e os serviços. O corte de 30% na educação aprofunda a recessão e o
desemprego. A retirada de 42% do Ministério da CT&I ceifa nosso presente.
Era sobre isto que o dia 15 de maio aflorou e se impôs. Teve o apoio do
movimento sindical, da comunidade científica e tecnológica, a simpatia da
população em geral e parte da mídia. Destaco o alto grau de unidade do
movimento pacífico e de suas entidades.
A participação
vigorosa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e dos
seus sindicatos, das entidades estaduais e municipais do professorado, da UNE,
UBES, UMES, dos DCEs e dos centros acadêmicos estudantis garantiram um grande
leito para que os rios humanos pudessem constituir esta força impactante no
cenário político. A solidariedade e apoio da CNTU (Confederação Nacional dos
Trabalhadores Liberais Universitários) e suas entidades de engenheiros,
economistas, farmacêuticos, odontólogos, nutricionistas filiadas (vide sua
precisa nota política divulgada em www.cntu.org.br), dos petroleiros, dos
bancários, de várias outras categorias importantes, movimentos sociais e das
centrais sindicais constituíram uma aliança social nova.
Isto influirá nos desdobramentos da greve geral programada
para 14 de junho contra o projeto que tramita no Congresso Nacional sobre o fim
da aposentadoria pública da Previdência Social.
As jornadas de 15 de maio foram a expressão do início do
descolamento das camadas médias das manifestações de junho de 2013 e de março
de 2015.O bolsonarismo nas camadas médias foi gravemente ferido e perdem força
os fantasmas e as fake news fabricados na campanha eleitoral. Mexeu-se na
educação e, portanto, na vida das famílias brasileiras. Isto não é pouco. A
roda da história se moveu.
Allen Habert, é engenheiro de produção e mestre pela EPUSP. Foi membro do Conselho Universitário da Unicamp e presidente do SEESP - Sindicato dos Engenheiros do ESP. É atualmente diretor de articulação nacional da CNTU – Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários e do SEESP.