Debates
100 dias de Governo Bolsonaro
Da Redação | 10 de abril de 2019 - 01:03
Por Rodrigo Augusto Prando
O Governo de Jair Bolsonaro apresenta o pior índice de
aprovação de um presidente recém-eleito, desde Collor. Com isso, nesses
primeiros 100 dias de ação a chamada “lua de mel” com a opinião pública foi
inexistente e, por incrível que pode parecer, praticamente todos os problemas e
crises enfrentadas foram geradas dentro do próprio governo, seja por
declarações desastradas de Bolsonaro, de seus filhos, de seus ministros ou de
membros de seu partido, o PSL.
A maioria dos analistas, portanto, avaliam como negativos
esses 100 primeiros dias, seja no plano nacional ou internacional. Os
bolsonaristas, que são diferentes dos eleitores de Bolsonaro, correm para
afirmar que é pouco tempo, que o estrago do lulopetismo foi bem grande e
estendeu por cerca de 16 anos. Há, apenas, parte de verdade na afirmação. Os
100 dias de um governo é uma amostra, como, para o médico, uma amostra de
sangue.
Não se retira todo o sangue de um paciente para detectar uma
doença, como não se espera metade de um mandato para se avaliar as ações
governamentais. Em termos positivos, há dois ministros que dão sustentação
racional ao governo: Paulo Guedes, na Fazenda e Sérgio Moro na Justiça; o
primeiro se esforça para dar conteúdo e forma à Reforma da Previdência e o
segundo apresentou um pacote anticrime, que já sofreu descaracterização e está
em compasso de espera, tendo perdido força política. Outro ponto a ser
destacado é a racionalidade e certa estabilidade oriunda no núcleo militar do
governo e, ainda nesta seara, a boa atuação do vice-presidente, Hamilton
Mourão. Já o presidente Jair Bolsonaro só na última semana fez um gesto de
aproximação com os líderes dos partidos político, porque até há pouco todos
eram chamados de membros da “velha política”. Deu-se, assim, nestes primeiros
meses a manutenção de um discurso de campanha e, por isso, Bolsonaro não
compreendeu a liturgia do cargo e nem a importância do papel de liderança que o
presidente da república exerce.
O fato de Bolsonaro gostar e se dar bem nas redes sociais
fez com ele continuasse a se concentrar naquele público que já lhe é fiel, já
convertido, deixando de lado os demais brasileiros. As confusões entre
interesses familiares e do Estado foram, inúmeras vezes, sentidos, até o ponto
de um ministro de Estado ser demitido por antipatia de um dos filhos do
presidente. Muitos dos seus ministros – sem a liderança do presidente – foram
de uma incompetência singular, falando bobagens, paralisando seus ministérios
e, também, apresentando currículos inverídicos em suas biografias. O pior, em
tudo, foi conjugar a retórica de campanha com a falta de articulação política,
que não foi feita nem pelo presidente e nem por seus ministros ou por líderes
de seu partido. Aliás, o PSL mostrou-se um amontado de personalidades, mas sem
organicidade e uma liderança capaz de dar sentido e rumo às dimensões da
política seja no parlamento seja junto à sociedade. No plano internacional, as
declarações de intenções foram, muitas vezes, no sentido oposto da tradição de
nossa diplomacia e as visitas presidenciais (Davos, EUA, Chile e Israel)
trouxeram mais problemas que soluções até agora.
Houve, enfim, um governo sem líder, um presidente e
ministros mais ligados às posições ideológicas do que capazes de governar com
estratégia. Esses 100 primeiros dias foram ruins. Pode, se quiserem, melhorar,
mas dependerá de esforço individual e coletivo. Talvez, a síntese do governo
tenha sido o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez: despreparado,
confuso, ideológico e inoperante. Bolsonaro deverá assumir as rédeas de seu
governo ou, então, outros poderão fazer isso.
Rodrigo Augusto Prando é Cientista Político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.