Debates
Brasil: a metáfora da barbárie
Da Redação | 16 de março de 2019 - 02:05
Por Mário Sérgio de Melo
Outro dia, num texto sobre o crime-tragédia Brumadinho, o
Professor de História Luis Fernando Cerri escreveu o seguinte comentário: “Brumadinho,
infelizmente, virou uma metáfora do que está acontecendo - economicamente, politicamente,
socialmente - no Brasil como projeto de nação e de civilização.” Que tristeza
ter de reconhecer quão certas estão estas palavras: nosso imenso país, tão
vasto, promissor e rico, nos dá mostras de que se encontra num deplorável
caminho de desestruturação social, um marcante retrocesso civilizatório.
E não é só Brumadinho. O show midiático da prisão dos bodes
expiatórios assassinos de aluguel de Mariele Franco, enquanto os mandantes
permanecem irrevelados, protegidos por membros dos órgãos que os investigam, é
outra dura evidência do cinismo que vivemos. A incivilidade do assassinato da
cidadã Mariele revela que o crime banalizou-se nas altas esferas do poder, e é
ocultado pelas autoridades que deveriam investigá-lo. Talvez estivéssemos num
regime mais honesto se fôssemos uma ditadura onde os opositores são
sumariamente executados, e não viveríamos a farsa deste regime em que se
executam as vozes contrárias e imputamos o crime à índole hedionda de bodes
expiatórios.
Mas as farsas de Brumadinho e de Mariele não são as únicas a
nos revelar a hipocrisia e o desatino de nossos tempos. Que dor ver o maior
estadista que o Brasil já teve, o metalúrgico sindicalista que o destino alçou
ao papel de líder dos brasileiros simples e com capacidade de discernir, e
projetou-o mundialmente por seu empenho na soberania do país e na diminuição
dos abismos sociais, ser tratado como bandido, humilhado, caluniado e privado
de direitos humanitários mais básicos, que não são negados nem ao maior
facínora. Lula é agora odiado por parcela do povo que tentou emancipar, que
reage com reflexos condicionados, como cães amestrados.
O país perdeu a noção, perdeu o rumo. A chacina na escola de
Suzano, na Grande São Paulo, em que jovens transtornados invadem o antigo
colégio para premeditadamente executar professores e alunos, aparentemente
movidos por algum tipo de ressentimento e vingança, é a apoteose da patologia
que tomou conta do país. Esta patologia mostrou seus primeiros sintomas em
2013, agravou-se em 2016 e atingiu estado crítico em 2018, quando não surtiram
efeito frases como “se a apologia da tortura não é suficiente para tocar seu
coração, então todos os outros argumentos são inúteis”, que circulou na web. Apesar
dos alertas, o Brasil elegeu para governantes fantoches entreguistas a serviço
dos interesses estrangeiros que desejam rapinar o país e seu povo.
Mas a História nos mostra que é errando que a Humanidade
aprende. Indiscutivelmente evoluímos, ou estaríamos ainda nas cavernas. Mas
precisamos cometer erros, que depois nos parecem absurdos, até enxergar o
caminho certo. São retrocessos efêmeros, depois seguimos adiante. Que estes
colossais erros que temos cometido nos acordem, que deixemos de ser gado
tangido, com convicções manipuladas pelas baixezas da grande mídia e das redes
sociais.
Que os brasileiros voltem a acreditar no sonho de uma nação
soberana, justa, pacífica e honrada.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG