PUBLICIDADE

Autocrítica da crise (mea-culpa dos dissimulados)

Imagem ilustrativa da imagem Autocrítica da crise (mea-culpa dos dissimulados)

Por Mário Sérgio de Melo

Vivemos um momento de crise sem precedentes, ninguém discorda. O desemprego avança, o crescimento e os investimentos estagnados, a dívida pública cresce, direitos trabalhistas regridem, a miséria volta a fazer parte do cotidiano, o fascismo, o ódio e a violência revelam-se sem escrúpulos, a juventude não acredita na educação nem no futuro do país, prefere sair do Brasil. Mas isso não é tudo. Os políticos e o judiciário estão desmoralizados, a mídia nunca foi tão facciosa, o cidadão comum está confuso diante de informações manipuladas ou falseadas.

Como chegamos a isso? Ao procurar respostas, é bom que tenhamos consciência de quais cérebros estamos empenhando nessa procura: o cérebro ancestral reptiliano, movido a instintos básicos de sobrevivência e domínio territorial? o cérebro límbico, movido a laços de sangue, amizade e compadrios, estes muitas vezes ilícitos? ou o neocórtex, responsável pelo raciocínio lógico, a reflexão capaz de estabelecer relações de causa e efeito?

Do necessário equilíbrio de desempenho destes três cérebros nascem a coragem, a compaixão, o discernimento. Essenciais se almejamos uma sociedade mais justa, mais solidária, mais humanizada. Caso contrário podemos descambar para o ódio, a segregação, o nepotismo ou a crueldade e a dominação aparelhadas pela ciência.

Muito se tem falado das razões da crise: a herança maldita deixada pelos governos anteriores; a incapacidade do partido que dirigiu o país de fazer autocrítica e corrigir seus erros. Diante da crise, é imperioso fazer crítica imparcial. Talvez o maior erro do partido que dirigiu o país tenha sido submeter-se aos poderosos e afastar-se da população que o elegeu, que não o defendeu no momento de enfrentar a sabotagem do golpe. O principal partido que estava na oposição cometeu erros? Tasso Jereissati, seu conceituado ex-presidente, acaba de reconhecer vários erros graves: a contestação do resultado eleitoral, inconformismo que estremeceu a democracia; o apoio a pautas-bomba que impediram o governo de governar; o apoio ao governo Temer que traiu o programa que o elegeu e aprofundou a crise; o não expurgo do senador Aécio quando este foi flagrado em conversas e acordos inadmissíveis para um homem público de bem.

Mas o mea-culpa da crise não deve restringir-se aos políticos e seus partidos. A grande mídia já os questiona amiúde. E quem tem questionado a grande mídia? Quem tem questionado as corporações nacionais e transnacionais e seus lobbies? Quem tem questionado o papel desse ente quase fabuloso, o intangível mercado? Quem tem questionado interesses externos empenhados em fazer fracassar o Brasil próspero e soberano, pois a eles interessa ter-nos como permanente colônia com mão de obra barata, exportadora de matérias primas para depois importá-las industrializadas?

O Brasil parece encontrar-se numa encruzilhada: ou escolhemos um caminho de violência e ódio, ou um caminho de submissão aos rapinantes interesses externos e seus prepostos locais, ou um caminho de justiça social e soberania nacional. O equilíbrio entre nossos cérebros, a garra, a compaixão, a razão, deverá ajudar-nos a fazer uma análise equilibrada. Não podemos continuar discutindo política como passionalmente discutimos futebol, religião, os nossos ídolos esportivos.

Oxalá logremos esse equilíbrio. Oxalá acordemos para o papel que têm exercido entre nós todos os grandes protagonistas da nossa realidade. Mas, sobretudo, que logremos ser capazes de avaliar o papel mais importante: a nossa própria conduta e exemplo, o nosso voto.

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MAIS DE DEBATES

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

DESTAQUES

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

MIX

HORÓSCOPO

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE