Debates
O lucro da Petrobras e a greve dos caminhoneiros
Da Redação | 18 de agosto de 2018 - 01:08
Por Reinaldo Moura
Lucro não é pecado. Pecado é o lucro a qualquer preço. Uma
empresa estatal, por exemplo, que não reduzir o preço de seu principal produto,
a ponto de provocar uma paralização geral em nosso País, como a recente greve
dos caminhoneiros, é fruto de uma insensibilidade de uma péssima gestão
pública.
Sabemos que a gestão corporativa tem o foco no negócio e
visa lucro, mas o governo tem, ou melhor, deveria ter uma visão mais holística
para tomar decisões mais inteligentes. É sempre bom deixar claro que a gestão privada
é diferente da gestão pública, e muitos setores por natureza são deficitários.
Inúmeras ferrovias no mundo têm custos maiores do que suas receitas, porque
precisam promover o desenvolvimento regional.
Ainda não conhecemos o prejuízo total desta paralização e
seu impacto real na queda do PIB, mas com certeza foi maior que o lucro
declarado de R$ 10 bilhões no primeiro semestre.
Em síntese, enquanto não se privatiza a Petrobras e o
mercado não é aberto à livre concorrência, não deveríamos arcar com as
penalidades de uma péssima gestão? Não podemos mais deixar o Brasil inteiro
refém de uma empresa e seus interesses particulares. E vale destacar que há
sempre muitas especulações sobre a gestão da petrolífera. Haviam acusações de
analistas, como a do falecido jornalista Paulo Francis, de que a empresa teria
sido usada historicamente como uma espécie de usurpadora de boa parte dos
ganhos do povo brasileiro para manter privilégios de alguns poucos
beneficiados.
Segundo aquele comentarista, haveria superfaturamentos em
profusão em muitas operações. O jornalista acabou processado na justiça
norte-americana por suas colocações radicais. Mas de fato, o que todos
brasileiros acabaram vendo a seguir, depois de décadas, foi que houve realmente
uma gigantesca sangria de recursos por seus dutos, que acabaram finalmente
devastando a companhia.
Hoje, ela está com uma imagem mundial e nacional muito
chamuscada e desgastada por conta desses desvios criminosos, que são
verdadeiras fortunas até para xeiques árabes. E a greve caminhoneira só
contribuiu.
Os brasileiros de esquerda continuam defendendo o modelo
getuliano estatal de 1953, mas a esmagadora maioria do empresariado nacional
acredita que é preciso mudar esta sociedade de economia mista para o bem geral
do País. Não é mais possível deixá-la como está.
Como empresa estatal na sua fundação, a Petrobras teve um
papel importante e estratégico ao longo dos anos. No entanto, hoje o mundo
sofre mudanças radicais e a matriz energética está sendo trocada em muitos
segmentos. Na área automotiva, por exemplo, será uma questão de algumas
poucas décadas para os veículos elétricos se firmarem como o de uso padrão.
Talvez, no futuro, surjam também novas pesquisas para
substituição dos polímeros, que é um dos subprodutos do petróleo mais usuais,
por opções mais sustentáveis. O chamado ‘plástico verde’, que nada mais é do
que o polietileno extraído a partir do álcool etílico (etanol) da
cana-de-açúcar, é uma fonte renovável de grande potencial e para viabilizá-la
será preciso mais pesquisas, visando a redução dos custos, que hoje ainda não
alcançou o patamar indicado economicamente.
É preciso também pensar em outras alternativas para
desconcentrar o transporte rodoviário brasileiro, grande consumidor de diesel e
óleos lubrificantes, originários do petróleo. O uso do caminhão continua
sendo uma das modalidades mais caras e os Estados Unidos é um bom exemplo de
como é possível diversificar a logística. A rede ferroviária norte americana
tem mais de 230 mil km de extensão e é mais extensa do planeta. Qual seria a
razão desse interesse norte-americano nos trens?
Com as mudanças vindouras, a Petrobras seguramente terá que
se redesenhar de um jeito ou de outro. O que não se pode mais concordar é que a
companhia continue sendo uma superorganização supranacional, inalcançável,
inatingível, olhando apenas para seu próprio umbigo e interesses corporativos,
em detrimento de todos os brasileiros.
Reinado A. Moura é engenheiro e fundador do Grupo IMAM