Debates
O Brasil precisa de investimento
Da Redação | 11 de maio de 2018 - 02:15
Por José Velloso
Toda caminhada começa com um primeiro passo. A volta do
crescimento econômico no Brasil pode ser comparada a essa metáfora. O caminho é
longo, muito longo, mas o primeiro passo precisa ser dado e precisa ser
assertivo, consistente e duradouro.
O crescimento do Brasil e o fim da mais longa recessão da
história econômica brasileira precisa de um passo consistente, não de aumento
eventual de consumo. Essa matriz econômica vimos no passado recente e “deu no
que deu”. O crescimento pelo consumo pode dar certo por um tempo, mas não
garante crescimento sustentado ao longo do tempo. Para gerarmos um ciclo
virtuoso de crescimento efetivo, geração de empregos e renda para os
brasileiros precisamos de investimentos.
“O investimento de hoje será o crescimento de amanhã”. Esta
frase é aceita por qualquer economista.
Para que o Brasil tenha uma série de crescimentos da ordem
de 2,5 a 3% ao ano, precisaríamos ter uma taxa de investimento da ordem de 23 a
24% do PIB ao ano. No entanto, estamos com uma taxa de investimento entre 15 e
16% do PIB, o que é muito baixa, muito aquém do que o Brasil precisa.
Apesar da inflação controlada, da queda dos juros da taxa
Selic, da volta, mesmo que ainda lenta, do emprego e o Brasil apresentando
crescimento de 1% do PIB em 2017, com perspectiva de aumento perto de 3% em
2018, o indicador da Formação Bruta de Capital Fixo (taxa de investimento)
continua muito baixo. Se continuarmos com uma taxa tão baixa, estaremos
contratando o “não-crescimento” nos próximos anos. Teremos mais um voo de
galinha.
Na verdade, sabemos que o próprio governo criou nós que
terão de ser desatados. Um deles é a PEC do Teto dos Gastos Públicos (Proposta de Emenda à Constituição 55/2016 ) que, a
partir de 2018 e durante 20 anos, prevê que os gastos federais só poderão
aumentar de acordo com a inflação acumulada conforme o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Como o orçamento é menor do que os gastos
correntes, Nação, Estados e Municípios forçosamente terão que cortar
investimentos.
Outro problema – e não menos importante – responde pelo nome
de Medida Provisória 777, que foi arduamente combatida pela ABIMAQ e
introduziu a TLP (Taxa de Longo Prazo) em substituição à TJLP (Taxa de Juros de
Longo Prazo). A TLP, que está fixada em 6,76% para 2018, é um índice que compõe
as taxas de juros das linhas de financiamentos do BNDES. A taxa de juros do
Finame é calculado pela somatória da TLP, mais del credere do BNDES de 2,1% e
mais o “spread” dos bancos repassadores. Hoje em dia o Finame custa, em média,
14 a 15% ao ano. Muito acima do retorno dos investimentos. Nas operações
diretas do BNDES (financiamentos acima de R$20 milhões) o custo médio é de 12%
ao ano. Também muito alto. Com o detalhe que o BNDES financia somente 50% do
empreendimento.
Os investimentos também estão prejudicados em função da
grande alavancagem das grandes empresas no Brasil. Quando uma empresa investe
com capital próprio, ela, na verdade, está utilizando lucros acumulados. Ora,
se as grandes empresas não têm conseguido lucratividade nos últimos anos, como
investir? Como é de conhecimento geral, grandes empresas estão “desinvestindo”
com o objetivo de “desalavancarem” seus balanços.
Em resumo, para que a retomada caminhe a passos mais
vigorosos e a iniciativa privada possa investir, o Governo – tanto o atual como
o que será empossado em 2019 – precisa oferecer alternativas ao alto custo do
financiamento. Um caminho seria diminuir a remuneração do BNDES (Del Credere) e
transferir as operações indiretas para diretas, tirando o banco repassador do
processo e com isso acabando com o spread. Seria uma forma de diminuir os juros
do Finame e também das operações diretas. As taxas poderiam chegar à 11% e 9%
respectivamente.
Na prática, o Governo – este ou o próximo – terá de regular
o setor financeiro. Até agora os governos só agiram em detrimento da indústria,
buscando o sonhado ajuste fiscal através deste setor. Agora, terão de tomar
medidas que irão afetar o setor financeiro – para acabar com o maior spread
bancário do mundo e aumentar a concorrência entre os bancos no Brasil – e
melhorar as taxas de juros do BNDES e do Capital de Giro das empresas. Só assim
atingiremos um crescimento sustentável. Através do investimento.
*José Velloso é engenheiro mecânico, administrador de
empresas e presidente executivo da ABIMAQ / SINDIMAQ.