Debates
Educação e Cidadania
Da Redação | 27 de janeiro de 2018 - 01:31
Por Eduardo Cambi
É necessário reagir contra a causa de todas as
desigualdades, que é a ausência de uma educação de qualidade. Sem educação não
há igualdade, nem democracia. Tampouco é possível combater a corrupção,
compreendida seja na escolha de políticos mais honestos para governar, seja na
construção – a longo prazo – de uma cultura individual pautada em princípios
éticos.
O comportamento dos eleitores e dos cidadãos, de modo geral,
pode contribuir significativamente para o ciclo da corrupção. Quando se troca o
voto pelo recebimento de favores pessoais, a política democrática deixa de ser
o caminho para atender os interesses comuns da sociedade. Ela passa a servir
para a satisfação de objetivos individuais, sem grandes preocupações com o
conjunto da sociedade ou com o seu futuro. Isso impede a criação das bases
sociais indispensáveis para promover as reformas que o Brasil precisa para o
seu desenvolvimento humano, político, ético e social.
Não basta reprimir a corrupção; é preciso educar para o
exercício da cidadania. Construir, pela educação, cidadãos responsáveis por
condutas éticas e sociais é condição essencial para promover os valores
positivos, tornar as pessoas menos egoístas, mais integradas e participantes do
processo político-democrático; enfim, verdadeiras coautoras da construção de um
país melhor e mais justo para todos.
Sem educação para o exercício da cidadania o futuro do
Brasil continuará condenado pela corrupção. É pela falta de conhecimento ou de
exercício efetivo dos deveres e dos direitos fundamentais que a apatia se
generaliza, a democracia é enfraquecida, os controles sociais ficam diluídos e
o modelo social brasileiro se mantém caracterizado pelo patrimonialismo, pelo
individualismo, pela desigualdade e pela injustiça.
A escola pode não apenas reproduzir a ordem social vigente
(marcada pelo individualismo, pelo consumismo, pela separação de classes
sociais e pela apatia do cidadão), mas deve, principalmente, contribuir para
melhorar a sociedade, orientando a transição ética e axiológica entre o passado
e o futuro.
Por isso, é necessário repensar o papel da escola na
formação do cidadão. Educar para o exercício da cidadania inclui a aproximação
da teoria com a prática. As escolas precisam ser espaços democráticos, para
poderem discutir as questões de interesse coletivo e agirem para melhorar a
sociedade. Para adquirir um comportamento cívico ativo, os alunos têm de
desenvolver competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), que os
capacite à participação na vida pública. A vivência da democracia deve começar
na própria escola, a partir da escolha de representantes de turma, do incentivo
à formação de grêmios estudantis e de diretórios acadêmicos, da participação
direta em conselhos escolares ou na eleição dos órgãos de direção. A escola
também deve ajudar os alunos a experimentar comportamentos cívicos responsáveis
nas atividades extraescolares, com o envolvimento de professores, de
educadores, de familiares e da comunidade.
Formar cidadãos, contudo, vai além do ensino do conjunto de
valores inerentes a uma comunidade democrática. O processo de aprendizagem deve
estar fundado na participação ativa – pelo diálogo, o debate, o exercício da
liberdade de discordar e a tomada de decisões em conjunto – para que a
resolução dos problemas da vida em comunidade possa contribuir para a criação
de hábitos e virtudes cívicas. Os ideais democráticos devem ser postos em
prática para que os valores éticos se fixem na base cultural da sociedade.
Entretanto, educação para a cidadania, voltada para a
promoção da democracia e da coesão social, não termina na escola. Também deve
envolver os meios de comunicação de massa, a educação familiar, o setor
produtivo e os órgãos públicos. Isso porque a cidadania plena e ativa depende
da capacidade de apreender durante toda a vida, para ter atitudes voltadas à
concretização permanente dos valores éticos.
*Promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná,
coordenador do Projeto Geração Atitude e coordenador do Projeto Paraná Sem
Corrupção.