Debates
Qual a melhor escola para os meus filhos?
Da Redação | 17 de janeiro de 2018 - 02:26
Por Daniel Medeiros
Todo começo de ano, imagino quantos pais formulam a
pergunta: "Qual escola tornará meu filho ou minha filha pessoas melhores,
mais capazes, mais preparadas para o futuro?” Penso que a resposta mais
adequada para essa importante questão é: “Você que sabe, logo, você quem
escolhe!" Como assim? Esse artigo não vai dar nenhuma dica,
nenhuma orientação sobre como escolher a escola "certa"? Calma, vou
tentar explicar.
Várias pesquisas demonstram que o principal fator no sucesso
escolar de um jovem é a sua família. Particularmente a presença e a formação
escolar da mãe. Um jovem cujos pais têm nível superior e são presenças ativas
na sua formação tem uma chance absurdamente maior de igualmente chegar ao nível
superior e se tornar um influenciador de seus filhos. Ou seja: o componente
familiar e a herança cultural dos pais são os maiores fatores de distinção
social que existem. E qual o papel das chamadas boas escolas? Objetivamente,
elas não fazem mais do que buscar ampliar essa formação, aprofundando as
melhores qualidades que já vêm de casa. E que qualidades são essas? Respeito
pelo aprendizado, foco na tarefa a ser cumprida, exemplos vindos dos adultos,
boas práticas de respeito e camaradagem, estímulo à curiosidade e ao
questionamento, solução de conflitos pelo diálogo e pelo consenso, entre
outras.
Observem: o componente cultural e a presença dos pais é o
fator preponderante de uma boa formação. A chamada boa escola é aquela que
amplia essa referência, constituindo-se em ambiente de oferta e acompanhamento
da formação desses jovens. A boa escola tem, portanto, um papel
suplementar. Pais que realmente se comprometem com o futuro dos filhos,
escolhem escolas que ofereçam propostas de ensino e ambientes que emulem o
próprio ambiente doméstico e reforcem a ideia de formação cultural que os pais
usaram para si próprios, sendo bem sucedidos por isto. É razoável que pais
seculares e liberais procurem uma escola com perfil mais aberto e estimulante.
Por sua vez, pais de perfil mais religioso ou tradicional, vão procurar escolas
que atendam e ofereçam esse modelo em suas aulas e ambiente escolar. Não tem
segredo. Os pais devem escolher a escola que dará continuação à formação dos
filhos e filhas.
Há aqui um grande desafio para os agentes públicos.
Nem todos os pais podem escolher a escola que querem para seus filhos. E o mais
grave: muitos pais não sabem o que escolher. E o que ainda é mais desafiador:
muitos jovens não têm pais ou têm pais que não assumem essa tarefa de
orientá-los. Por isso, se o Estado assume para si a tarefa de garantir educação
de qualidade, a escola pública deve buscar oferecer um ambiente de convivência
e aprendizado que seja capaz de compensar a ausência e deficiência da presença
e estímulos dados pela família. Caso contrário, ocorrerá na educação pública um
processo de defasagem crônica na formação dos jovens e de distanciamento cada
vez maior das chances desses jovens realizarem no futuro seus projetos
profissionais e cidadãos.
Nos resultados apresentados pelos questionários respondidos
na Prova Brasil e no Enem, fica claro que a falta de suporte familiar, quando
não compensado por uma escola que ofereça profissionais altamente qualificados
e treinados e ambientes desafiadores e, ao mesmo tempo, acolhedores, não
proporcionarão resultados expressivos capazes de posicionar estes jovens, de
maneira vantajosa, no cruel e insensível mercado de trabalho. É um fato e é o
grande desafio público do nosso Estado Democrático de Direito para as próximas
décadas.
Quanto aos pais que podem escolher e que acreditam que uma
boa escola garante uma boa formação, o conselho é simples e direto: fiquem mais
tempo com seus filhos, conversem mais com eles, viajem mais com eles,
participem de atividades culturais com eles, debatam as questões nacionais e
mundiais com eles, leiam livros com eles, façam cursos junto com eles. A escola
que você escolher, a boa escola, vai apenas dar continuidade a essa formação. O
sucesso deles será mérito dele e de vocês, principalmente.
Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor no curso Positivo de Curitiba.