Cotidiano
Fósseis com 416 milhões de anos são achados na região
Novas espécies de serpente e estrela-do-mar são descobertas em Ponta Grossa e Jaguariaíva, na região dos Campos Gerais
Da Redação | 01 de fevereiro de 2020 - 00:11
Novas espécies de serpente e estrela-do-mar são descobertas em Ponta Grossa e Jaguariaíva, na região dos Campos Gerais
“Paleontologia não é
só dinossauro”, diz Cristina Silveira Vega, paleontóloga e professora do
Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Datados
antes mesmo dos dinossauros, no período chamado Devoniano, entre 416 milhões e
359 milhões de anos atrás, fósseis de espécies de serpente e estrela-do-mar
foram descobertos no Paraná por pesquisadores da UFPR. O estudo de iniciação
científica do estudante Malton Carvalho Fraga, do curso de Geologia, com
orientação da professora Cristina, foi publicado neste mês na revista científica
internacional Journal of South American Earth Sciences, que abrange as Ciências
da Terra, principalmente em questões relevantes para a América do Sul, América
Central, Caribe, México e Antártica.
O artigo mostra a diversidade e riqueza fossilífera da
região do Paraná. A pesquisa é pioneira em detalhar os fósseis de serpentes do
mar (ofiuroides) e estrelas-do-mar das rochas do período Devoniano do Brasil.
Os pesquisadores da UFPR descobriram duas novas espécies, dois novos gêneros e
uma nova família de equinodermos, grupo de invertebrados tipicamente marinhos.
Atualmente existem mais de 2 mil espécies vivas de ofiuroides e mais de 1,5 mil
espécies vivas de estrelas-do-mar.
Para a professora Cristina Silveira, a descoberta também
consiste no entendimento da vida que passou pelo planeta ao longo dos anos e as
pessoas não sabiam. “O estudo desses seres [estrelas-do-mar e serpentes do mar]
é tão importante quanto o de animais maiores, como os dinossauros”.
A coleta de fósseis de equinodermos foi realizada por
diferentes alunos e professores da UFPR, em pontos estratégicos dos municípios
de Ponta Grossa e Jaguariaíva, no Paraná, onde rochas do período Devoniano
estão expostas na superfície. A coleção da UFPR possui 60 amostras coletadas
nas últimas três décadas.
Malton explica que a coleta é difícil por serem animais de
vida livre e com mais facilidade de escapar de soterramentos, que os
preservariam como fósseis. “Este trabalho só foi possível por conta dos
esforços de muitas outras pessoas que, durante décadas, coletaram e guardaram
cada um desses fósseis”, diz.
O projeto faz parte do grupo de pesquisa sobre Geologia Exploratória, do Departamento de Geologia da UFPR. Além do impacto na área de Geologia, o estudo contribui com o projeto de extensão “Divulgando a Paleontologia na Educação Básica”, que leva a Paleontologia para crianças nas escolas. A ideia é explicar o que é essa área, trazer fósseis e explicar a importância deles.
O processo de pesquisa
Ao descrever as amostras coletadas, os pesquisadores notaram
características peculiares que não se encaixavam em nenhuma espécie conhecida.
Para chegar aos resultados, um dos desafios foi a descrição morfológica
detalhada da espécie. “O esqueleto de ofiuroides e estrelas-do-mar é muito
delicado, composto por milhares de ossículos milimétricos difíceis de
distinguir nos fósseis”, explica Malton.
Para ilustrar as características com precisão e qualidade, o grupo teve apoio do Laboratório de Análise de Minerais e Rochas (Lamir) e do Centro de Microscopia Eletrônica (CME) da UFPR. Assim, foram geradas imagens dos fósseis através da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), além de outras técnicas sofisticadas.
Espécies em homenagem ao Paraná
Dentro da taxonomia, uma família é uma classe mais
abrangente que um gênero, que por sua vez é mais abrangente que a espécie. O
gênero Paranaster e a família Paranasteridae foram nomeados
pelos pesquisadores em homenagem ao estado do Paraná.
As descobertas foram a família Paranasteridae, o
gênero Paranaster, a espécie Paranaster crucis (estrela-do-mar),
o gênero Magnasterella e a espécie Marginix notatus (serpente
do mar). De acordo com os pesquisadores, as descobertas são importantes para
mostrar a diversidade e as peculiaridades das espécies que viveram nos mares
polares durante o período Devoniano.
Paranaster crucis é uma nova espécie de estrela-do-mar
conhecida apenas por um único fóssil coletado no Paraná. “Mesmo assim, o fóssil
é muito especial porque preservou muito bem as diferentes partes do esqueleto
do animal”, avalia Malton. Essa estrela-do-mar tinha uma aparência exótica
devido ao corpo coberto por centenas de espinhos. Além disso, por conta de sua
peculiar combinação de características, foi necessário criar um gênero e uma
família para agrupar a espécie.
Já o Marginix notatus é uma nova espécie de
serpente do mar (ofiuroide) descrita com base no fóssil mais bem preservado
desse estudo. Essa serpente do mar tinha braços curtos e um corpo bastante
largo, o que a torna facilmente confundível com uma estrela-do-mar. Por outro
lado, o maior fóssil de Marginix notatus tem o diâmetro de um prato, o que faz
a espécie grande em meio aos outros pequenos fósseis de invertebrados da
região.
Por Breno Antunes da Luz
Sob supervisão de Chirlei Kohls
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de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR