Cotidiano
Acidentes de trânsito consomem quase R$ 3 bilhões do SUS
<b>No Paraná, neste mesmo período, foram realizados 89.464 com gastos equivalentes a R$169.855.492,29. São 28.426 óbitos no Estado. Números de Ponta Grossa são desconhecidos</b>
Da Redação | 24 de maio de 2019 - 00:00
No Paraná, neste mesmo período, foram realizados 89.464 com gastos equivalentes a R$169.855.492,29. São 28.426 óbitos no Estado. Números de Ponta Grossa são desconhecidos
No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco
pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Os desastres nas ruas e
estradas do País também já deixaram mais de 1,6 milhão de feridos nos últimos
dez anos, ao custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde
(SUS). No Paraná, neste mesmo período, foram realizados 89.464 com gastos
equivalentes a R$169.855.492,29. São 28.426 óbitos no Estado. Os números fazem
parte de um levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego
do CFM, José Fernando Vinagre, os números mostram que os acidentes de trânsito
constituem um grave problema de saúde pública e que provoca sobrecarga nos
serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de
internação dos hospitais. “É preciso reconhecer o importante aprimoramento da
legislação ao longo dos anos e também o aumento na fiscalização, especialmente
após a Lei Seca. No entanto, precisamos avançar nas estratégias para tornar o
trânsito brasileiro mais seguro”, destacou.
Segundo a análise do CFM, a cada hora, em média, cerca de 20
pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento grave
decorrente de acidente de transporte terrestre. Ao avaliar o volume total de
vítimas graves do tráfego nos últimos dez anos (1.636.878), é possível
verificar que 60% desses casos envolveram vítimas com idade entre 15 e 39 anos,
sendo menor a frequência nas faixas etárias que vão de zero a 14 anos (8,2%) e
em maiores de 60 anos (8,4%). Outra constatação: quase 80% das vítimas eram do
sexo masculino.
Mais vítimas
Entre 2009 e 2018, houve um crescimento
de 33% na quantidade de internações em todo o País. O pior cenário,
proporcionalmente, foi identificado no estado de Tocantins, que saiu das 60
internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). Na
sequência aparece Pernambuco, onde o salto foi de 725% na última década. Apenas
cinco estados registraram queda no número de internações por acidente de
transporte: Maranhão (redução de 40%), Rio Grande do Sul (22%), Paraíba (20%),
Distrito Federal (16%) e Rio de Janeiro (2%).
Em números absolutos, 43% do volume total de internações
registradas no SUS no período ficou concentrado em estados do Sudeste, região
que reúne também metade da frota de veículos automotores do País. Outros 28%
dos casos graves ficaram no Nordeste e o restante ficou diluído entre o Sul
(12%), Centro-Oeste (9%) e Norte (7%).
Para a presidente da CFM, Carlos Vital, a solução para
reduzir os acidentes depende de uma série de fatores de prevenção, reforço na
fiscalização e sinalização, além de questões de infraestrutura e aprimoramento
dos itens de segurança dos veículos. “Neste contexto, os médicos desempenham
papel fundamental nas discussões sobre direção veicular segura. O impacto
desses acidentes nos serviços de saúde é alto. Leitos são ocupados, hospitais e
médicos se dividem no atendimento entre os acidentados e os que procuram
assistência médica para patologias que não poderiam prevenir, diferentemente
dos acidentes de trânsito, que podem ser reduzidos e prevenidos”, destacou.
Sobrecarga para o SUS
Se por um lado as tragédias no
trânsito trazem dor e sofrimentos aos pacientes e seus familiares, por outros
elas também estendem suas consequências para o bolso dos brasileiros. Na última
década, as internações hospitalares decorrentes de acidentes de trânsito
consumiram cerca de R$ 2,9 bilhões do SUS, em valores atualizados pela inflação
do período.
Antonio Meira Júnior, diretor da Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego (Abramet) e membro da Câmara Técnica do CFM, lembra que
os custos com os acidentes de trânsito vão além das hospitalizações. “Estamos
falando de um custo médio de aproximadamente R$ 290 milhões ao ano, que
obviamente foi investido para salvar vidas, o que é justificável. Se
conseguíssemos diminuir o número de vítimas do trânsito, no entanto, teríamos
um impacto muito grande também nas contas públicas. São recursos que poderiam
ser direcionados para outras áreas prioritárias da assistência em saúde no
País”, pontua.
Estimativas conservadoras, segundo ele, calculam em cerca de
R$ 50 bilhões ao ano os gastos com os acidentes, incluindo atendimento
médico-hospitalar, seguros de veículos, danos a infraestruturas, perda ou roubo
de cargas, entre outras despesas. “É preciso lembrar que existem outros custos
envolvidos neste contexto, como o do absenteísmo por doença (falta do trabalhar
por atestado ou licença-saúde), com auxílios doença e tudo o mais que o País
tenha investido no indivíduo que veio a óbito ou que ficou inválido em idade
produtiva. Mais grave do que toda essa matemática, porém, são as sequelas
físicas e emocionais – muitas vezes irreversíveis – que cada um destes
acidentes deixa na vida das pessoas”.
Mortalidade em queda
Segundo o levantamento do CFM,
que considerou ainda dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do
Ministério da Saúde, só em 2016 (ano mais recente disponível), foram
registrados 37.345 óbitos decorrentes de acidentes de transportes terrestres.
Embora a quantidade seja a menor registrada no período analisado (2007 a 2016),
o número de mortes tem avançado em alguns estados, sobretudo das regiões
Nordeste e Norte do País.
Na região Norte, a mortalidade por acidentes subiu 30%. Da
mesma forma, no Nordeste houve um crescimento de 28% dos casos. No Centro-Oeste
também houve aumento do indicador (7%), enquanto nas regiões Sul e Sudeste
apresentaram menor quantidade de óbitos em 2016, frente à 2007, com queda de
15% e 18%, respectivamente.
Embora os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná
liderem o ranking nacional em números absolutos de mortes no trânsito durante
os últimos dez anos, o Piauí foi a federação que apresentou o maior crescimento
proporcional no período: 56%. Em 2007, 670 óbitos haviam sido registrados
naquele estado, número que saltou para 1.047 dez anos depois. Na mesma
proporção, de 56%, cresceram os registros vítimas fatais no Maranhão no
período. Ao todo, 16 estados notificaram aumento desse tipo de agravo.
De outro lado, o estado mais populoso do País informou queda
na quantidade de óbitos desta natureza. Em 2016 foram 5.740 mortes, 24% a menos
que o indicado em 2007 (7.550). No quadro nacional, também figuraram com
redução significativa de casos fatais no período os estados de Santa Catarina e
Roraima, ambos com queda de 23%; Distrito Federal (22%); e Espírito Santo
(20%).