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‘Desobediência’ usa clima denso para falar de religião que sufoca

‘Desobediência’ usa clima denso para falar de religião que sufoca

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Dos segundos iniciais aos momentos finais, o que atravessa o filme ‘Desobediência’ é o modo competente com que o diretor chileno Sebastián Lelio arquiteta um universo denso, pesado e sufocante a serviço da história a ser contada. A base dessa “arquitetura” é formada por um conjunto de fatores como personagens vividos por intérpretes que trabalham com movimentos engessados e vozes reprimidas e contidas, enquadramentos que priorizam planos médios, ambientes fechados (com direito a cena em que uma das personagens deixa claro que as janelas do quarto não abrem) e uma paleta de cores que prioriza o preto, o branco, o cinza, o ocre e suas nuances.

Todo esse conjunto de elementos é utilizado para compor um quadro de repressão onipresente da religião. Mais especificamente, do judaísmo ortodoxo. A história mostra Ronit (Rachel Weisz) chegando a Londres para participar da cerimônia de despedida de seu pai, Rav (Anton Lesser), rabino que acabou de falecer. Lá ela encontra seus amigos de infância que, agora, estão casados: Esti (Rachel McAdams) e Dovid (Alessandro Nivola). Dovid está sendo preparado pela comunidade judaica para substituir Rav, mas esse plano (e toda a sua rotina rigidamente formatada) sofre rachaduras com o retorno de Ronit. Ela se mudou para o exterior em razão do envolvimento homoafetivo com Esti na infância.

A reaproximação de Roni e Esti causa alvoroço na comunidade altamente conservadora. No entanto, muito mais do que o relacionamento homossexual entre duas mulheres, o que se destaca em ‘Desobediência’ é mesmo a imposição sufocante de preceitos religiosos em praticamente tudo o que permeia a existência humana.

‘Desobediência’ não é uma produção digerível para muitos, mas representa um bom exemplo de direção cuidadosa nos detalhes, do figurino ao roteiro, da interpretação dos atores à construção dos personagens, da escolha dos enquadramentos à inserção das músicas.

A trama envolvendo Ronit, Esti e Dovid confirma o talento de um diretor que, em 2018, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por ‘Uma Mulher Fantástica’. O principal motivo? A mesma ambientação que é propositalmente engessada para contar bem a história é responsável pela competência artística digna de aplausos.

*Texto de Tiago Luiz Bubniak

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